Santander lucra 607 milhões de euros em Portugal, o melhor resultado de sempre
Banco Santander Totta regista uma duplicação dos resultados no ano passado. Presidente executivo mostra-se orgulhoso. Dividendos serão elevados
Banco Santander Totta regista uma duplicação dos resultados no ano passado. Presidente executivo mostra-se orgulhoso. Dividendos serão elevados
O Santander em Portugal obteve, em 2022, os maiores lucros da sua história. O resultado líquido fixou-se em 606,7 milhões de euros, o que corresponde a mais do dobro do resultado do ano anterior, segundo os números que foram apresentados esta quinta-feira, 2 de fevereiro, pela administração do banco.
“Os resultados são muito bons, um grande orgulho”, disse Pedro Castro e Almeida na apresentação de contas anuais, que teve lugar na sede do banco, em Lisboa. Estas contas foram ajudadas pela mais-valia da venda de um negócio de acquiring (uma tipologia de atividade na área dos pagamentos), que o Santander em Portugal vendeu a uma empresa do grupo.
A nível recorrente, o resultado líquido foi de 568,5 milhões de euros. Ou seja, mesmo excluindo a mais-valia, também ele um valor nunca antes alcançado pela instituição.
A unidade em Portugal segue aquilo que ocorreu no grupo, em que a casa-mãe, a nível consolidado, alcançou também um lucro recorde de 9,6 mil milhões de euros.
Com resultados recorde, também a parcela que será entregue ao acionista espanhol em dividendos deverá ser generosa. “Os bancos estiveram impedidos de pagar dividendos por parte das autoridades europeias. É normal que, passado o período de proibição e entrando no período de estabilização de economia, todo o dinheiro acumulado e que não foi, na devida altura, entregue aos acionistas e não rentabilizou o capital, é normal que seja devolvido”, assumiu o administrador com o pelouro financeiro, Manuel Preto.
O valor só será divulgado em maio, mas Manuel Preto sublinhou que o banco continua “a ter excesso de capital”, e que será nesse contexto que será tomada a decisão.
Os rácios de capital do Santander desceram em 2021, com o pagamento dos referidos dividendos atrasados, mas ainda estão em níveis elevados e com margem para distribuição dos resultados de 2022. O rácio mais exigente, o CET1, deslizou de 25,1% para 16,5%, mas ainda acima do mínimo exigido, que está nos 8,3%.
Numa longa intervenção inicial, Castro e Almeida sublinhou que “é bom ter resultados”. “É bom ter lucros e estar cá para os momentos difíceis que se aproximam”, continuou.
Questionado sobre se os resultados são excessivos, Castro e Almeida respondeu que o país tende “a demonizar ou quem ganha bom ordenado, ou quem tem lucros”. “Ter lucro é bom para a economia, para quem trabalha nessas empresas e para a sociedade”, adiantou, não deixando de apontar o dedo a uma “carga fiscal na casa dos 50%”.
“O Santander tem um contrato de prestação de serviços com Portugal. Não temos falhado, temos vindo a crescer. Quando há sol, estão cá muitos. Tivemos três períodos de chuva e estávamos completamente sozinhos a ajudar; este é o nosso compromisso para os tempos de incerteza que aí vêm”, ressalvou o CEO.
Tendo em conta essa presença na economia portuguesa, Castro e Almeida quis responder à frase de Paulo Macedo no Parlamento sobre a aquisição de bancos a preços baixos pelo Santander (referindo-se ao Banif e Popular). “Tenho uma ótima opinião do Dr. Paulo Macedo, a Caixa teve bons gestores, mas tem de se olhar para o histórico da instituição e desde 2009 a Caixa já fez três aumentos de capital. Já precisou de mais de 6 mil milhões de euros de ajuda dos contribuintes. O Santander nunca precisou de ajuda”, declarou.
"Em 2015 não havia nenhum banco em Portugal capaz de pagar 150 milhões de euros pelo Banif e colocar 1,4 mil milhões de euros de liquidez na segunda-feira seguinte à venda. Santos da casa não fazem milagres. Nos tempos de sol a praia está cheia, nos tempos difíceis, é bom ver quem aparece", frisou.
Para a obtenção dos resultados, o Santander contou com a rubrica de provisões e imparidades, que no ano passado tinha causado um rombo de 300 milhões (também devido aos custos com o despedimento coletivo), que agora não aconteceu, já que até houve reversão e um contributo positivo de 12 milhões.
Apesar do contexto macroeconómico e com subida de juros (que está a assustar as famílias com o agravamento das prestações), o banco olhou para a situação de pleno emprego: “este fator contribuiu para que, apesar do complexo contexto económico, não se observasse um impacto percetível sobre a qualidade da carteira de crédito, com o rácio de NPE [ativos não produtivos] a situar-se em 2%, no final do ano, uma redução de 0,3 pontos percentuais face ao nível observado no final de 2021”, diz o comunicado de resultados.
De resto, o produto bancário cresceu 2% para 1,3 mil milhões de euros, ajudado pela margem financeira, que aumentou 7% devido à subida dos juros nos créditos à habitação. As comissões líquidas também avançaram 10%.
Por outra via, os custos deslizaram 8% para 486 milhões de euros, sendo que neste ponto contou também a descida de despesas com pessoal. Ao longo de 2022, o Santander perdeu 161 trabalhadores, totalizando um quadro de 4644 funcionários, dispersos por 339 agências (menos 9).
Em relação aos trabalhadores, Castro e Almeida justificou a decisão de avançar antecipadamente com o aumento salarial de 4% já em janeiro, mesmo apesar de não haver ainda acordo com os sindicatos à luz do acordo coletivo de trabalho.
“Não seria simpático estar aqui a negociar com a comunicação social. Vamos continuar com conversas, é sempre bom entrar nas negociações com patamar elevado”, continuou.
De qualquer forma, os custos com massa salarial registam uma subida de 7%, com promoções por mérito, ou aumento dos salários mínimos para 1400 euros.
Notícia atualizada às 10h40 com mais informações
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