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Nvidia mais que duplica receitas e quase triplica lucros, mas isso não chega para convencer mercados

Nvidia mais que duplica receitas e quase triplica lucros, mas isso não chega para convencer mercados
Reuters/ Ann Wang

Empresa líder mundial de chips voltou a superar as estimativas dos analistas com as receitas e lucros a mais do que duplicarem face ao ano anterior. No entanto, atrasos no fabrico do novo e poderoso semicondutor preocupou os mercados

Mais que duplicou as receitas (+122%), quase triplicou os lucros (+168%) e voltou a superar as expectativas médias dos analistas, nos resultados apresentados durante a noite de quarta-feira. Mas nada disto foi suficiente para a Nvidia convencer os mercados, que se habituaram a que a maior empresa de chips do mundo não só superasse as projeções, como deixasse toda a gente de queixo caído.

Depois do fecho de sessão em Wall Street, no chamado after-hours, as ações da Nvidia caíram 6,89% e na pré-abertura desta quinta-feira seguem a perder mais de 4%, deixando antever um início de sessão conturbado para a empresa liderada por Jensen Huang, que foi cunhada este ano como "a empresa mais influente do mercado" - e chegou a ser a mais valiosa do mundo, por alguns dias.

"Os ganhos da Nvidia na noite passada foram o centro das atenções em todo o mundo", começa por explicar Dan Ives, analista da Wedbush, numa nota enviada ao Expresso. E, houve até quem se reunisse em bares nos Estados Unidos da América, para acompanhar ao segundo a apresentação de resultados (com direito a contagem decrescente e tudo).

O lucro líquido relativo ao segundo trimestre fiscal deste ano, terminado em julho (e não em junho), fixou-se nos 16,6 mil milhões de dólares (o equivalente a 15 mil milhões de euros) e as receitas superaram os 30 mil milhões de dólares (cerca de 27 mil milhões de euros). Números nunca antes registados pela empresa que lidera a corrida à inteligência artificial, devido aos seus superpoderosos chips que são os que melhor respondem ao avanço desta tecnologia. E para o próximo trimestre as estimativas de receitas da própria empresa apontam para os 32,5 mil milhões de dólares, também acima do esperado pelos analistas.

"A conferência com os analistas foi muito esclarecedora para os investidores céticos que questionam se o hype em torno da inteligência artificial é exagerado. Jensen falou do facto de muitos dos seus clientes estarem a competir para serem os primeiros a experimentar os novos avanços e modelos de inteligência artificial", diz Dan Ives que acrescenta: "a procura por processadores de inteligência artificial está a superar em muito a oferta da Nvidia neste momento".

A empresa acumula um ganho de 160% este ano e, desde 2019, disparou 3000%.

Ações da Nvidia valorizam mais de 160% este ano

Variação da cotação da empresa, em dólares

O que está a dececionar o mercado?

"A Nvidia apresentou resultados (em termos de receitas e lucros) acima do consenso estimado, mas ligeiramente aquém das expectativas do mercado, na nossa opinião", explicam os analistas do banco norte-americano JP Morgan, numa nota.

Apesar da expectativa média dos analistas para as receitas ser de 28,7 mil milhões de dólares, havia quem acreditasse que podia atingir os 37 mil milhões (ficou-se pelos 30 mil milhões). Habituados sempre a que a Nvidia ultrapasse a mais otimista das previsões, desta vez, os mercados ficaram dececionados.

Mas o principal foco de preocupação está "nos atrasos nas entregas do chip Blackwell", dizem os analistas do JP Morgan, que deveriam já ter começado a ser enviados aos clientes durante este trimestre - e tal só deverá acontecer no próximo. O seu fabrico está a revelar-se mais desafiante do que era previsto pela empresa, que garantiu que vai aumentar a produção a partir do quarto trimestre, depois de uma mudança no fabrico e que espera vários milhares de milhões de dólares em vendas ainda neste ano fiscal".

"A procura pelo Blackwell está a ultrapassar em muito a oferta e a empresa espera que isso se mantenha no ano fiscal de 2026. De salientar que o Blackwell é capaz de dar uma resposta 3 a 5 vezes maior às necessidades da inteligência artificial nos data centers com energia limitada do que o Hopper [versão anterior]", continuam os analistas.

Numa entrevista à Bloomberg, depois da apresentação de resultados, o presidente-executivo Jensen Huang admitiu a perda de um cliente no futuro, a ZT, uma vez que foi comprada pela rival da Nvidia, a norte-americana AMD, por 4,9 mil milhões de dólares, em agosto.

Os data centers continuam a ser a maior fonte de receita (87%), com este indicador a atingir os 26,3 mil milhões de dólares (23,7 mil milhões de euros), o que representa um disparo de 154% face ao período homólogo e de 16% face ao trimestre anterior.

No setor do gaming, o segundo maior, a receita totalizou os 2,9 mil milhões de dólares (+16% face ao ano passado e +9% comparando com o trimestre anterior). Nos dois segmentos de negócios, a empresa superou as estimativas dos analistas.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: galmeida@expresso.impresa.pt

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