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Sou um pequeno investidor e a minha carteira desvalorizou-se: como reagir a um 'apagão' nas bolsas?

Sou um pequeno investidor e a minha carteira desvalorizou-se: como reagir a um 'apagão' nas bolsas?
Getty Images/primeimages
Pequenos investidores viram os seus portefólios perder parte do seu valor no início desta semana, com o mini crash nas bolsas mundiais. Como se deve atuar numa situação destas?

Quando acordou, na manhã desta segunda-feira, já a Bolsa do Japão tinha encerrado a negociação. Passava das 07h em Portugal continental. João Gouveia, 29 anos, abriu as aplicações no telemóvel das duas corretoras que usa, a Degiro e a Revolut, e percebeu que o dia ia ser duro para o seu portefólio. "Estou habituado a que haja algumas oscilações, mas não tão grandes como as que ocorreram", admite ao Expresso.

Começou a investir em bolsa no início de 2021. Diz que sabe a data de cor, porque foi no dia em que a Gamestop, empresa de videojogos, disparou em bolsa à boleia de um conjunto de pequenos investidores, que se juntaram na rede social Reddit, para investir em manada na subida das ações de um leque de empresas.

Apesar das fortes quedas no mercado asiático, naquela segunda-feira, não imaginava que a sua carteira de investimento fosse tão penalizada, no final do dia. "O meu portefólio desvalorizou 1500 euros", admite o analista de dados, de 29 anos, ao Expresso, o que para a "realidade do pequeno investidor" é ainda "considerável".

Apesar do susto, o analista de dados diz que não ficou "muito preocupado". O seu objetivo é olhar "sempre a médio-longo prazo, não tanto com o fazer dinheiro a curto prazo" e até aproveitou as quedas "para reforçar posição nalguns investimentos que tinha". "Em paralelo, tenho também algum dinheiro investido em certificados de aforro que vai dando um pouco de estabilidade ao meu portfólio", diz.

Por sua vez, Daniel Pires, empresário de 43 anos que investe há mais de 20, explica ao Expresso, que "está confortável" com as desvalorizações em bolsa, porque sabe o que fazer quando um crash se faz sentir. "Perco regularmente dinheiro, mas os ganhos ultrapassam as perdas", admite.

Um dia depois do pior dia do ano nas bolsas, diz ter reagido às fortes quedas com "tranquilidade". "Foi uma correção normal do mercado, numa altura em que as bolsas estão sobreaquecidas", avança. E, devido às fortes perdas, confessa ter feito três reforços ao longo do dia, ou seja, comprado mais títulos.



Com a queda volumosa das bolsas mundiais, as pesquisas no motor de busca Google e no Youtube por termos como crash nas bolsas ou mercado de ações disparou. Assim como os termos “recessão económica” e “recessão económica nos EUA”. Pequenos investidores, preocupados com o seu portefólio, tentaram procurar explicações para o que estava a acontecer. Só que, muitas vezes, as palavras razão e mercados não andam de mãos dadas.

César Borja, Presidente da Associação Portuguesa de Acionistas Minoritários, explica ao Expresso que, nestas situações, o principal foco deve estar em perceber a natureza das variações. No caso, o medo de uma recessão económica nos EUA, no longo prazo, terá sido um dos gatilhos para as quedas.

"Estas questões macroeconómicas costumam ser cíclicas e passageiras. Se os investidores conhecerem bem as empresas em que estão a investir, se essas empresas forem fundamentalmente atrativas e se as ações estiverem subavaliadas, não há qualquer motivo para vender essas ações", diz Borja.

E acrescenta "se houver disponibilidade financeira para tal, os investidores deverão aproveitar os preços mais baixos derivados de uma situação exógena que pouco efeito terá nas suas empresas para acumular, de forma diversificada, mais ações".



Como atuar nesta situação concreta?

Numa nota, a Allianz Global Investors dá algumas pistas sobre o que fazer neste caso concreto, que se despoletou com o pior dia das últimas três décadas no Nikkei 225, em Tóquio. "Já com a correção terminada, e com a moeda a valorizar, achamos que é tarde demais para reduzir as ações do Japão. A questão aqui é perceber se devemos adicionar o iene [à nossa carteira] como um ativo seguro", escrevem os analistas.

No mesmo documento, a Allianz defende que se foca apenas em posições longas nas ações dos EUA, ou seja, a olhar para uma valorização de longo prazo. Com todo o pessimismo dos mercados com a taxa de desemprego norte-americana, divulgada na semana passada, dizem também que será importante ter em conta os próximos dados macroeconómicos e a corrida às eleições presidenciais, que terão lugar em novembro.

"Esteja atento aos mercados de crédito", diz a mesma nota. "Embora seja provável que a Fed esteja relativamente otimista relativamente à volatilidade do mercado acionista, é mais provável que intervenha se os mercados de crédito parecerem vulneráveis. Esta ação assumiria provavelmente a forma de outros tipos de intervenção no mercado, em vez de um corte nas taxas de juro", explica.

A atuação do banco central dos EUA será fulcral para perceber o rumo que os mercados vão levar até ao final do ano.



A Reserva Federal optou por manter as taxas de juro inalteradas em máximos históricos na semana passada, no intervalo entre 5% - 5,25%, empurrando para setembro uma possível decisão. Agora, os mercados estão a dar como certa uma redução na próxima reunião de setembro com uma possibilidade de 90,5% de um corte de 50 pontos-base (que compara com os 11% registados na semana passada). Caso Jerome Powell, líder da instituição, optar por avançar com vários cortes de juro este ano, o dólar norte-americano "poderá enfraquecer".

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: galmeida@expresso.impresa.pt

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