Nos dias de hoje, se houver problemas em algum banco, a Caixa Geral de Depósitos (CGD) tem poder para evitar que esse banco seja adquirido por um euro por um grupo bancário estrangeiro. Essa foi a mensagem que o presidente executivo do banco público, Paulo Macedo, deixou esta terça-feira, 10 de janeiro, no Parlamento.
“É por a Caixa estar como está que não acontecia hoje a compra por um grupo estrangeiro do Banif e do Banco Popular por um euro”, declarou Paulo Macedo nas respostas aos deputados na comissão parlamentar de orçamento e finanças, chamado para explicar o encerramento de balcões que a Caixa Geral de Depósitos empreendeu no ano passado.
“Parece que os lucros são algum tipo de obsessão”, disse Macedo, defendendo que não são: são eles que garantem que o banco tem forças para intervir se for necessário. Em 2015, ano da resolução do Banif, e em 2017, ano da intervenção no Popular, a CGD tinha ainda perdas históricas. “A Caixa tinha seis anos de prejuízos. Foi por isso que esses bancos [estrangeiros] ultrapassaram as quotas”.
O Santander Portugal comprou a parte saudável do Banif por 150 milhões de euros, enquanto o Santander em Espanha adquiriu por um euro o Popular, ficando com o banco que este tinha em Portugal.
“É muito claro por que estes bancos cresceram acima da quota de mercado natural, para além do seu mérito: porque a Caixa Geral de Depósitos não tinha capital, estava à beira da resolução, tinha seis anos de prejuízos”, repetiu o líder do banco.
Caixa como pivot de fusões?
Em 2015, o Governo quis utilizar a CGD para tentar salvar o Banif, mas a Comissão Europeia colocou entraves a essa possibilidade tendo em conta a frágil situação em que o banco público vivia.
Este posicionamento de Paulo Macedo sobre a CGD acontece quando o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, já veio dizer que é “inevitável” haver fusões e aquisições no sector bancário português. O Expresso já escreveu que os vários cenários em cima da mesa que envolvam os quatro maiores bancos privados podem arriscar a liderança da CGD.
“Somos líderes no crédito à habitação, nos fundos de investimento, nos depósitos, em leasing, em cartões de débito, em contas de serviços mínimos. Não somos líderes no crédito ao consumo, e a única razão [para estar nesse segmento] é para poder prestar serviço a todos os nossos clientes, e não irem a outras entidades. Ainda bem que [a CGD] não é líder em tudo, ao contrário era um banco imperial”, disse Paulo Macedo.
Hoje em dia, a Caixa “não é uma Caixinha”, como houve políticos a temer depois da reestruturação que se estendeu entre 2017 e 2020. “Desta vez, a Caixa não vai voltar ao prejuízo”, porque isso obrigaria a uma apresentação de um plano para restabelecer rácios rapidamente, e não se estenderia por seis anos.
Por isso, continuou Paulo Macedo, “a ideia de que Caixa pode dar [apenas] um lucrozinho é totalmente errada, não tem nada que ver com supervisão, com regulação, não tem nada que ver com o que os clientes querem”.