Economia

Juros dos novos créditos à habitação têm maior subida em duas décadas e 83% estão expostos às taxas Euribor

Há mais de 1,1 milhões de contratos de crédito para a compra de casa própria e permanente
Há mais de 1,1 milhões de contratos de crédito para a compra de casa própria e permanente
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Peso dos créditos à habitação com taxa variável deslizou, mas continua a ser a esmagadora maioria (sobretudo com Euribor a seis meses). Taxa fixa é muito mais rara, e continua 2 pontos acima da variável

Os bancos e os clientes continuam a negociar créditos para a casa em que as prestações variam ao longo dos tempos: 83% dos novos créditos à habitação para a compra de casa própria permanente que foram concedidos em outubro eram indexados às taxas Euribor, o que, embora inferior à carteira total atual, mostra o peso das taxas variáveis no país. E os juros praticados nos novos empréstimos tiveram a maior subida mensal desde pelo menos 2003, segundo os mais recentes dados do Banco de Portugal.

A opção por uma taxa variável continua a ser esmagadora nos novos empréstimos à habitação própria e permanente (que não inclui, portanto, a fatia dos créditos para segunda habitação ou obras). Segundo as estatísticas divulgadas pelo Banco de Portugal esta sexta-feira, 2 de dezembro, só 7% dos novos créditos deste tipo foram, em outubro, à taxa fixa (que não vai variar ao longo de todo o prazo), e 9% foram a taxa mista (que junta fixa e variável em diferentes períodos).

Esta prevalência das taxas variáveis é uma tendência que existe em Portugal há anos (quando na zona euro a taxa fixa tem força) e na carteira de crédito já existente é o que se verifica, já que mais de 90% dos créditos à habitação são a taxa variável. Atualmente há pelo menos um banco, o Santander, que até nem está a negociar taxa fixa. Ainda há semanas, o conselheiro de Estado Luís Marques Mendes defendeu que o Banco de Portugal devia fazer pedagogia para o recurso à taxa fixa nos créditos à habitação.

Taxa fixa dois pontos acima da variável

A taxa fixa é negociada no início dos contratos e não mexe depois ao longo de todo o empréstimo, mas a verdade é que ela vai sendo sempre colocada pelos bancos em níveis superiores à medida que as Euribor crescem. Num ambiente de Euribor a subir, os novos créditos têm sempre taxas fixas mais elevadas do que nos meses anteriores.

Globalmente, “a taxa de juro média dos novos empréstimos à habitação subiu para 2,86% (2,23% em setembro), o valor mais elevado desde janeiro de 2015. Trata-se da maior subida mensal desde o início da série estatística, em 2003”, indica o Banco de Portugal. Ou seja, é a maior subida mensal em pelo menos duas décadas (não há dados anteriores a 2003) e é o juro mais elevado em oito anos. Com a subida dos juros, o volume de novos créditos à habitação deslizou.

Separando por tipo de indexante, a taxa de juro fixa de novas operações estava, em outubro, em 4,1%, enquanto em setembro estava na casa dos 3,5%. Em dezembro de 2021, era de 2,1%. Olhando para os novos e antigos créditos, “a taxa de juro média do stock era de 2,4% no final do outubro”, segundo o supervisor.

A subida, claro, também se verificou nos créditos indexados às Euribor, mas os juros são muito inferiores aos juros em empréstimos com taxa fixa, com uma média superior em dois pontos percentuais.

“Nos empréstimos a taxa variável, a taxa de juro média dos novos contratos subiu de 0,6% para 2,6% entre dezembro de 2021 e outubro de 2022. A taxa de juro média do stock era de 1% no final do outubro”, indica o supervisor.

Entretanto, “desde setembro de 2022 que a Euribor a 6 meses é o principal indexante nos novos empréstimos para habitação própria permanente com taxa variável”, sublinha o supervisor, tal como aliás o Expresso já tinha dado conta – os bancos tiraram do preçário a taxa a 12 meses, que era aquela que foram tendo quando as taxas estavam esmagadas. A maturidade a 6 meses estava em 60% dos novos contratos, a Euribor a 12 meses em 33% e a Euribor a três meses em 6%, havendo uma parte residual a evoluir consoante outros indexantes.

Maior subida da prestação em outubro

O Banco de Portugal publicou também dados sobre o montante das prestações nos créditos à habitação que mostram que os agravamentos estão mais pronunciados nos últimos meses, sobretudo entre setembro e outubro.

Em outubro, a prestação média dos créditos para a compra de casa permanente era de 315 euros, acima dos 304 do mês anterior. Não havia uma subida de 11 euros nos últimos tempos, sendo que nos dois meses anteriores o aumento tinha sido de 5 euros. De resto, embora sempre com tendência de subida, foram evoluções inferiores este ano.

Em dezembro do ano passado, a prestação média era de 278 euros, marcando-se uma subida de 36 euros desde então. Até ao fim do próximo ano, as prestações subirão mais, já calculou o Banco de Portugal.

“Em outubro, 80% dos contratos tinham uma prestação entre 113 euros e 515 euros”, assinala ainda a autoridade bancária.

As prestações que registam aumentos maiores que possam comer rendimento disponível podem levar à negociação de novas condições com os bancos, caso as taxas de esforço superem os limites estabelecidos pelo Governo no novo diploma para o crédito à habitação. Só os empréstimos com taxas variáveis são ajudados por este diploma.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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