Economia

António Costa usa Carlos Costa para responder a Marques Mendes

António Costa usa Carlos Costa para responder a Marques Mendes
JOSÉ SENA GOULÃO/ LUSA

O primeiro-ministro recuperou o comunicado do Banco de Portugal de Carlos Costa para mostrar que houve concertação entre Governo e supervisor no Banif

António Costa usa Carlos Costa para responder a Marques Mendes

Diogo Cavaleiro

Jornalista

A resposta que António Costa tem para Luís Marques Mendes e as dúvidas que lançou sobre o processo de resolução do Banif, sugerindo até uma investigação judicial, é um comunicado: comunicado esse que data de 20 de dezembro de 2015, que tem uma autoria - o Banco de Portugal quando era presidido por Carlos Costa.

“Face às dúvidas ontem publicamente suscitadas quanto ao processo de venda do Banif, recorda-se o que então foi publicamente comunicado e esclarecido pelo Banco de Portugal”, é o que diz o gabinete do primeiro-ministro num e-mail enviado às redações esta quarta-feira, 16 de novembro, onde segue em anexo o comunicado do supervisor bancário sobre a venda do Banif que recua quase sete anos. É o comunicado em que foi anunciada a resolução do Banif, depois do discurso então proferido pelo primeiro-ministro.

O interesse de António Costa ao relembrar o documento é que nele há um alinhamento de posições entre o Banco de Portugal de Carlos Costa, que tinha sido reconduzido há meses pelo Governo de Passos Coelho contra a sua vontade, e o então recém-eleito primeiro-ministro. “As autoridades nacionais, Governo e Banco de Portugal, decidiram hoje a venda da atividade do Banif – Banco Internacional do Funchal, S.A. (Banif) e da maior parte dos seus ativos e passivos ao Banco Santander Totta por € 150 milhões”, é o que refere o comunicado. Em contrapartida àquele pagamento, deu-se o compromisso de gastar 2,3 mil milhões de euros da esfera do Estado no banco.

“As imposições das instituições europeias e a inviabilização da venda voluntária do Banif conduziram a que a alienação hoje decidida fosse tomada no contexto de uma medida de resolução”: é aqui que o comunicado da autoridade então comandada por Carlos Costa agora recuperado por António Costa atira as responsabilidades para entidades como a Direção-Geral de Concorrência da Comissão Europeia, que duvidava da viabilidade do Banif, e o Banco Central Europeu.

Comunicado após silêncio de Marcelo

Esta nota do primeiro-ministro prende-se com as palavras de Marques Mendes na apresentação do livro “O Governador”, em que foram publicadas as memórias de Carlos Costa à frente do Banco de Portugal entre 2010 e 2020. Aí, o ex-governador defende que o primeiro-ministro prejudicou a banca portuguesa e contribuiu para que o Banco Central Europeu se tornasse mais agressivo para com o Banif, conduzindo à sua resolução naquela altura de 2015.

O gabinete do líder do Governo mandou este comunicado depois de este ter sido um tema em que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não se ter querido comprometer. “Aguardo para ver”, posicionou-se, deixando comentários para os comentadores.

Marcelo posicionou-se, sim, ao lado de António Costa no tema relacionado com o BPI e as intervenções feitas pelo seu Governo para garantir a estabilidade na instituição financeira quando houve um desentendimento acionista entre o CaixaBank e Isabel dos Santos, ao mesmo tempo que o Banco Central Europeu se tornava mais incisivo na sua supervisão por conta da exposição a Angola.

António Costa já anunciou - e reiterou - que vai processar Carlos Costa pelas declarações que constam do livro, em especial pela acusação de pressão exercida em 2016 sobre a manutenção de Isabel dos Santos como administradora do Banco BIC.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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