Lucros da Sonae aumentam 32,6% desde janeiro, mas caem 4,2% no terceiro trimestre

Custos de energia e transporte, preços de abastecimento e movimentos de migração para produtos de gama e preço inferiores afetaram a rentabilidade, diz Cláudia Azevedo
Custos de energia e transporte, preços de abastecimento e movimentos de migração para produtos de gama e preço inferiores afetaram a rentabilidade, diz Cláudia Azevedo
Nos primeiros 9 meses do ano, a Sonae lucrou 210 milhões de euros, mais 32,6% que no mesmo período de 2021 (período homólogo). No entanto, considerando apenas os números do terceiro trimestre de 2022, os resultados líquidos caíram 4,2%, para os 92 milhões de euros, indicam os resultados da empresa, divulgados esta quarta-feira.
Nas vendas, o grupo liderado por Cláudia Azevedo fechou setembro nos 5,49 mil milhões de euros, 10,4% acima do ano anterior. Considerando apenas o terceiro trimestre, o salto é superior, de 15%, para os 2,045 mil milhões.
“Num ambiente inflacionista, com subida dos preços e das taxas de juro, os negócios da Sonae fizeram um esforço para combater os impactos nos clientes, nomeadamente suportando em parte o aumento dos custos e mantendo preços competitivos no mercado de retalho alimentar em Portugal”, afirma a empresa.
Quanto ao desempenho financeiro entre julho e setembro, reflete ”os esforços para suportar parte da inflação e para garantir a competitividade das ofertas, bem como a mais-valia relacionada com a venda da Maxmat no terceiro trimestre de 2021”.
“A rentabilidade foi naturalmente afetada pelos custos recorde de energia e transporte, pelos preços de abastecimento mais elevados e pelos movimentos de migração para produtos de gama e preço inferiores (trading down). No entanto, os resultados consolidados demonstraram uma forte resiliência e a nossa posição financeira manteve-se muito sólida”, afirma a presidente executiva da Sonae na mensagem que acompanha a apresentação dos resultados do grupo na CMVM – Comissão de Mercado de Valores Mobiliários.
Sublinhando “o ambiente geopolítico e macroeconómico complexo e volátil” e “os níveis crescentes de inflação e de taxas de juro, juntamente com os custos de energia consistentemente elevados” que têm marcado a conjuntura atual, a gestora refere que os negócios do grupo “conseguiram, mais uma vez, aumentar os seus níveis de investimento, reforçar as suas propostas de valor e apoiar as famílias a enfrentar estes desafios, nomeadamente mantendo preços competitivos e respondendo às novas necessidades dos consumidores”, sem esquecer o aumento das quotas de mercado de todos os negócios no terceiro trimestre.
Assim, numa nota de confiança, assume estar “naturalmente orgulhosa destes resultados e motivada para enfrentar o futuro”. “Estou confiante de que, apesar dos desafios macroeconómicos, continuamos a estar bem preparados para reagir rapidamente à alteração das circunstâncias e aproveitar as oportunidades que possam surgir", diz.
"A Sonae continuará a ser movida pela sua missão, investindo sempre com uma perspetiva de longo prazo”, conclui deixando ainda uma nota para o facto do preço das ações da Sonae ter sido afetado no terceiro trimestre “pela perturbação nos mercados de capitais, corrigindo parcialmente em outubro”.
Quanto ao valor líquido do portefólio (NAV), atingiu os €4 mil milhões no final de setembro, ligeiramente acima do valor registado em junho devido essencialmente ao desempenho operacional dos negócios do grupo e ao aumento do valor dos ativos da Sierra e da Bright Pixel, explica.
Em termos de rentabilidade, o EBITDA subjacente atingiu 181 milhões de euros no trimestre (+7,2%) , “com a energia e os preços de produção a pressionarem a estrutura de custos e a conduzirem a uma redução das margens”. Em oito meses o valor é de 440 milhões (+6%). Assim, a margem EBITDA diminuiu 0,6 pontos percentuais entre julho e setembro e 0,33 pontos percentuais no conjunto dos 9 primeiros meses do ano.
No caso do retalho alimentar, a redução da margem foi superior: menos 1 ponto percentual no trimestre e menos 0,6 pontos percentuais nos 9 meses.
Apesar do contexto, o investimento do grupo totalizou 579 milhões de euros nos últimos 12 meses, 253 milhões dos quais em aquisições, destaca a empresa. Já “a dívida líquida do grupo situou-se em 1.022 milhões de euros e a estrutura de capitais do Grupo manteve-se sólida, com rácios de alavancagem e níveis de liquidez muito confortáveis (mais de 1 mil milhões de euros de liquidez disponível), estando o grupo totalmente financiado até ao início de 2024 e com um custo médio de financiamento de cerca de 1%”, assume.
Na análise por negócio, a MC, enfrentou “um ambiente macroeconómico desafiante, caracterizado por níveis de inflação e taxas de juro crescentes, a afetar o poder de compra das famílias e a confiança dos consumidores” no último trimestre. No entanto, “o mercado de retalho alimentar português continuou a crescer, em termos homólogos, devido à inflação alimentar extraordinariamente elevada (16% no terceiro trimestre e 11% desde janeiro), o que compensou a redução dos volumes totais em consequência do aumento do custo de vida”, refere.
As vendas totais atingiram os 1,6 mil milhões de euros no terceiro trimestre, (+16% em termos homólogos e mais 13,3% numa base comparável), num desempenho positivo transversal aos formatos alimentares e não alimentares. Nos 9 primeiros meses do ano, o volume de negócios atingiu 4,3 mil milhões de euros, o que representa crescimentos de 10,6% em termos homólogos e de 8,6% numa base comparável, com a MC “a reforçar a aposta na sua estratégia omnicanal e de reforço da sua posição de liderança em Portugal”.
Numa nota que responde de forma indireta à questão do imposto sobre os lucros inesperados da distribuição, assumida recentemente pelo Governo, o comunicado refere que “em termos de desempenho operacional, a MC continua a enfrentar fortes pressões na sua estrutura de custos, dado os elevados custos recorde de energia juntamente com as medidas implementadas para proteger os seus clientes e reforçar a competitividade, suportando parte dos custos inflacionário”.
“De facto, os custos de energia continuaram a aumentar significativamente no terceiro trimestre” e, em 9 meses, ficaram 40 milhões acima dos níveis de 2021, tendo sido o principal fator explicativo da queda da margem em ambos os períodos”, diz o comunicado.
“Assim, o EBITDA subjacente situou-se em 158 milhões de euros no terceiro trimestre (+5% em termos homólogos), com uma margem de 9,9% (-100 pontos base face ao terceiro trimestre de 2021), conduzindo a um valor de 400 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano (+4%, em termos homólogos) e a uma margem de 9,3% (-59 pontos base)", acrescenta.
A MC investiu 61 milhões de euros no terceiro trimestre e 131 milhões entre janeiro e setembro, “apostando no desenvolvimento da sua infraestrutura digital e logística e na expansão e remodelação do seu parque de lojas”, o que se traduziu em 16 inaugurações e 6 mil metros quadrados de área de venda.
No retalho de eletrónica, as vendas da Worten cresceram 10,6% no terceiro trimestre, para 315 milhões de euros, apoiadas nas venda sazonais devido às temperaturas elevadas no verão. “Em termos acumulados, a evolução positiva dos dois últimos trimestres, mais do que compensou o comparativo desafiante do primeiro trimestre de 2021, conduzindo a um aumento do volume de negócios de 4,2% em termos homólogos, para 836 milhões de euros”.
No setor imobiliário, a Sierra assume “um forte desempenho operacional em todas as áreas de negócio, em particular no seu portefólio de centros comerciais que apresentou um crescimento de vendas de 25,2%, em termos homólogos, e de 11,9% face ao terceiro trimestre do ano passado, com as taxas de ocupação a atingirem os 97,5%, e as taxas de cobrança convergiram para níveis pré-pandemia.
Numa base contabilística proporcional, os lucros da Sierra no terceiro trimestre foram de 17 milhões de euros, mais 6 milhões que um ano antes e o resultado líquido acumulado atingiu os 45 milhões.
No retalho de moda, a Zeitreel cresceu 8% no terceiro trimestre, para 102 milhões de euros, com contributo positivo de todas as marcas. Desde janeiro, o salto é de 20%, para 276 milhões de euros, um valor em linha com os níveis de 2019, “o que demonstra uma clara recuperação”, diz a empresa.
“As vendas online continuaram também a registar uma evolução positiva, quando comparadas com os níveis pré-pandemia, tendo atingido 14% do volume de negócios omnicanal”, refere.
Nos serviços financeiros, o Universo, já com mais de um milhão de clientes, aumentou a produção em 13% no trimestre e em 16% nos primeiros nove meses do ano, atingindo os 824 milhões de euros.
A Bright Pixel, com o negócio de corporate venture do grupo, continua a crescer e investiu cerca de 20 milhões de euros no reforço do seu portefólio, chegando a setembro com 192 milhões de euros de capital investido no portfólio ativo, mais 14,5% comparativamente ao final de 2021.
Nas telecomunicações, a NOS fechou o trimestre com um crescimento de 4,1% no volume de negócios, para 381,5 milhões de euros. Considerando o período de 9 meses, o crescimento foi de 7,5%, para 1,1 mil milhões de euros
No retalho de desporto, a ISRG cresceu mais de 40% (321 milhões de euros no trimestre) e viu o peso no online atingir os 19%. Entre janeiro e setembro, o salto foi de 58,9%, para os 938 milhões de euros.
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