Economia

Lucros da Sonae disparam 89% no primeiro semestre

Claudia Azevedo
Claudia Azevedo
Rui Duarte Silva

Vendas do grupo no primeiro semestre aumentam 8%, para 3,4 mil milhões de euros. “O preço das ações da Sonae aumentou 17% quando comparado com o final de 2021, um desempenho excecional face ao mercado, e o retorno total acionista atingiu 54% no final de junho de 2022”, sublinha a presidente executiva, Cláudia Azevedo

A Sonae fechou o primeiro semestre com um crescimento de 89% nos lucros, para os 118 milhões de euros, a traduzir “o crescimento dos negócios, o sucesso na gestão do portfólio e o comparável com o primeiro semestre de 2021 que havia sido afetado pela pandemia”, afirma a empresa no comunicado de apresentação de contas, divulgado esta quinta-feira.

O volume de negócios aumentou 8%, para 3,4 mil milhões de euros, enquanto o valor líquido do portfólio atingiu os 3,8 mil milhões de euros e as ações valorizaram 17% num semestre em que um dos destaques da empresa vai para “o reconhecimento do esforço dos negócios da Sonae para estarem ao lado das famílias e combaterem impactos da inflação e da guerra na Ucrânia” por parte dos clientes.

O grupo reporta também que a “rentabilidade melhorou, com EBITDA subjacente a aumentar 5,2% para 259 milhões de euros e EBITDA total a crescer 10,6% para 319 milhões”. Ao mesmo tempo, a dívida líquida diminuiu quase 400 milhões de euros (1.103 milhões).

Nos últimos 12 meses, o investimento ascendeu a 563 milhões de euros, 244 milhões dos quais correspondem a aquisições, e foram criados 1.400 postos de trabalho.

“Durante o primeiro semestre do ano, apresentámos resultados sólidos, com os nossos negócios a reforçarem novamente as suas posições de liderança de mercado, consolidando também os seus programas de transformação digital”, afirma Cláudia Azevedo, presidente executiva da Sonae no comentário ao desempenho do grupo.

“Apesar da redução da confiança dos consumidores e da forte pressão sobre as estruturas de custos, o portefólio da Sonae continuou a demonstrar a sua adaptabilidade, resiliência e capacidade de responder às necessidades dos clientes”, acrescenta.

O impacto da guerra

Sobre a envolvente económica e política, a gestora afirma: “Durante o primeiro semestre de 2022, enquanto nos preparávamos para um mundo pós-pandemia, enfrentámos novamente uma realidade totalmente nova e desafiante, desta vez caracterizada por fortes disrupções nas cadeias de abastecimento, por uma escalada dos custos de energia e por níveis crescentes de inflação e de taxas de juro. Este contexto, intensificado pela guerra na Ucrânia, teve um impacto significativo nas nossas comunidades e nos nossos negócios, colocando-nos novamente à prova”.

E deixa uma nota relativa ao "atual contexto de inflação crescente": "Os nossos negócios têm reforçado o compromisso com os nossos clientes, implementando ofertas competitivas diferenciadas para os apoiar e mitigar a pressão no rendimento disponível das famílias", garante.

Relativamente ao futuro, manifesta confiança na solidez do grupo. “Estamos bem posicionados para navegar o próximo ciclo macroeconómico”, diz, apesar de admitir que a “volatilidade e a incerteza atuais conduzem a uma necessidade de agir com maior sentido de colaboração, velocidade e ambição”.

Quanto aos resultados, refere que o desempenho operacional consolidado, juntamente com “a gestão ativa do portfólio” permitiu geral mais de 600 milhões de cash flow nos últimos 12 meses, a possibilitar o pagamento de dividendos aos acionistas e a redução da dívida.

Sustentabilidade e ações

O preço das ações da Sonae aumentou 17% quando comparado com o final de 2021, um desempenho excecional face ao mercado, e o retorno total acionista atingiu 54% no final de junho de 2022. Apesar da evolução negativa nos mercados de capitais, o valor líquido do portefólio (NAV) da Sonae atingiu €3,8 mil milhões, com um contributo positivo da melhoria da rentabilidade da MC e da ISRG, dos níveis mais elevados de NAV da Sierra e da Bright Pixel e de uma maior capitalização bolsista da NOS”, refere.

Sobre a sustentabilidade, destaca a continuidade dos compromissos com o planeta, com as pessoas e com as comunidades. “Continuámos a progredir em diversas iniciativas e lançámos algumas novas, como o compromisso “Zero Desflorestação” até 2030, a subscrição dos Princípios dos Oceanos da ONU e os esforços para apoiar os refugiados da guerra na Ucrânia que se encontrem em Portugal, no âmbito do programa “Sonae For Ukraine”.

Na atividade de gestão do portfólio no segundo trimestre, continuaram as alienações e aquisições, havendo ainda negócios a aguardar conclusão, como os acordos da Brigth Pixel para vender a Cellwize e da Maxive, e do Universo para a venda dos seus 50% na MDS.

Considerando os últimos 12 meses, a Sonae encaixou 660 milhões com a venda de ativos, sobretudo com a fatia de 24,99% do capital da MC e a participação de 50% da MC na Maxmat. Já no primeiro semestre, a alteração no portefólio mais relevante foi a aquisição de 10% na Sierra por 83,5 milhões.

Segundo trimestre em aceleração

Relativamente ao segundo trimestre do ano, a Sone considera que o portefólio “acelerou o seu crescimento e atingiu resultados encorajadores”, com o volume de negócios consolidado a crescer 10,7%, para os 1,8 mil milhões de euros, puxado pelo MC, e o EBITDA subjacente consolidado a aumentar 1,8%, para 139 milhões de euros.

“Esta evolução positiva dos negócios consolidados integralmente, com a melhoria no desempenho dos negócios consolidados pelo método de equivalência patrimonial e as mais-valias da atividade de gestão de portefólio da Bright Pixel, conduziram a um resultado direto de 63 milhões de euros no segundo trimestre, +13,6% em termos homólogos”, aponta a Sonae.

Sobre o resultado indireto, que neste período foi de 30 milhões de euros, a Sonae refere estar “bem acima dos valores do ano passado, suportado pelos dividendos recebidos pela participação direta na NOS, pela valorização das propriedades de investimento na Sierra e pela reavaliação do portefólio da Bright Pixel. Globalmente, o Resultado Líquido (atribuível a acionistas) melhorou no segundo trimestre, para 76 milhões de euros”.

A análise da empresa afirma que "a estrutura de capital do Grupo manteve-se robusta, com rácios de alavancagem e níveis de liquidez muito confortáveis, estando totalmente financiado até início de 2024. No final do segundo semestre, a Sonae detinha 1.020 milhões de euros de liquidez disponível (caixa e linhas de crédito disponíveis), mantendo um baixo custo de financiamento (menos de 1%) e um perfil de maturidade da dívida superior a 4 anos".

Na análise por áreas de negócio, a MC (retalho alimentar) continua a ganhar quota de mercado, com um crescimento das vendas de 7,6%, para 2,7 mil milhões de euros, num “contexto de consumo cada vez mais desafiante, caracterizado por acelerados níveis de inflação e pelo enfraquecimento do poder de compra que fez com que as famílias realocassem os seus orçamentos”.

De acordo com o comunicado, “a MC respondeu rapidamente à evolução das necessidades do consumidor, dando prioridade a ofertas competitivas diferenciadas e reforçando as soluções de poupança, o que contribuiu para o seu desempenho sólido”. Durante o segundo trimestre, o volume de negócios total da MC cresceu 11,4% em termos homólogos (9,8% numa base comparável), “suportado pelo desempenho positivo de todo o portefólio”.

E enquanto os formatos alimentares aceleraram neste trimestre, ultrapassando o crescimento do mercado, os formatos não alimentares continuaram a recuperar das restrições implementadas durante a pandemia no período comparável (+19,1%).

O canal online manteve o seu peso no volume de negócios total, mas com níveis de vendas mais de 2x acima dos níveis pré-pandemia.

Em termos de rentabilidade, a evolução positiva do volume de negócios da MC, nos primeiros seis meses do ano “contribuiu para compensar a pressão na sua base de custos, nomeadamente no que diz respeito ao aumento dos custos da energia e combustíveis, conduzindo a um crescimento do EBITDA subjacente, para 242 milhões de euros, com uma margem de 9%.

MC ganha quota de mercado

Ao mesmo tempo, a MC continua a investir na expansão, modernização e remodelação do seu parque de lojas, bem como no desenvolvimento da sua capacidade digital e logística, tendo investido 44 milhões de euros no segundo trimestre do ano.

No retalho de eletrónica, a Worten cresceu 5,9% em termos homólogos, para 261 milhões de euros, entre janeiro e junho, e continua a ter no canal online “uma importante avenida de crescimento”, a representar já 15,6% do volume de negócios total, "significativamente acima dos níveis pré-pandemia" (5% no primeiro semestre de 2019).

A Sierra, no sector imobiliário, apresentou um lucro de 28 milhões de euros e valorizou os ativos em 5,7% para 978 milhões, tendo visto as vendas dos lojistas na Europa superarem os níveis de 2019 em 8,3% em todos os países.

Quanto ao negócio da moda, “continuou a ser afetado por um contexto desafiante, com o conflito na Ucrânia a impactar a confiança dos consumidores e a evolução da inflação a pressionar os níveis de rendimento disponível dos consumidores”, no entanto, diz a Sonae, a Zeitreel cresceu 28%, para fechar o semestre com vendas de 174 milhões de euros, 8,9% dos quais por via do online.

Um milhão com o Universo

Nos serviços financeiros, a base de clientes do Universo ultrapassou a barreira de um milhão, com 90 mil novos titulares de cartão e o volume de produção total foi de 528 milhões (+17%). “O foco em iniciativas digitais contribuiu para que a base de clientes total do Universo atingisse 65% de clientes digitais no final do semestre”, refere a Sonae.

Nas telecomunicações, a NOS registou um crescimento de 9,4% do seu volume de negócios, para os 742 milhões de euros, tendo visto o EBITDA aumentar 5,1% no semestre, para os 322 milhões de euros, a acompanhar a subida de 2% do resultado líquido, para os 44 milhões.

No retalho de desporto, as vendas da ISRG aumentaram 71% e atingiram os 621 milhões, ultrapassando os níveis pré-pandemia, uma performance que o grupo considera “encorajadora, tendo em conta o contexto macroeconómico e o ambiente comercial deste setor ainda marcado por diversas disrupções na cadeia de abastecimento”. A fatia do canal online aqui é de 20,2%, já a beneficiando contributo da aquisição da Deporvillage em 2021.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mmcardoso@expresso.impresa.pt

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