Bruxelas não quer falar em recessão, mas também não afasta liminarmente o cenário. A poucos dias de anunciar as previsões económicas de Outono, o vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, deixa, porém, um aviso: a economia ainda vai desacelerar mais.
"[As previsões] vão indicar um maior enfraquecimento da economia e confirmar a inflação elevada", afirmou esta segunda-feira à entrada para a reunião de ministros das Finanças da zona euro, sem, no entanto, adiantar números ou projeções, que só serão conhecidos na próxima sexta-feira. Segundo o Comissário para os Assuntos Económicos, Paolo Gentiloni, a Comissão espera uma "contração da atividade económica". Falta saber a duração.
A inflação vai continuar alta. No entanto, Bruxelas espera que comece "uma trajetória descendente", graças às medidas tomadas para travar os preços da energia, mas também à atuação do Banco Central Europeu, que se prepara para uma nova subida das taxas de juro.
Num dia em que os ministros apresentaram os orçamentos nacionais aos colegas do euro, a Comissão pediu aos Governos "prudência" nas medidas nacionais, para não atrapalharem o trabalho do BCE. "Claramente, o Banco Central Europeu está a fazer o seu trabalho, em termos de política monetária. Portanto, é importante que a política orçamental não contrarie este esforço".
Dombrovskis mostra-se preocupado com o "mix delicado" entre política orçamental (dos Governos) e monetária (do BCE), advertindo que "não deveriam trabalhar com objetivos cruzados". "Não estamos a recomendar estímulos económicos, mas antes uma abordagem orçamental mais prudente com medidas de apoio temporárias e direcionadas", acrescenta.
Mas, segundo o vice-Presidente da Comissão, uma primeira análise do executivo comunitário aos esboços de orçamentos nacionais mostra que, "infelizmente, a maioria das medidas não são direcionadas", o que deverá levar Bruxelas a insistir com os Governo em causa - não diz quais - para reverem as medidas.
Já o ministro das Finanças português chegou esta segunda-feira a Bruxelas confiante no orçamento e a pedir antes "coordenação" entre as políticas orçamental e monetária. “Se, pelo contrário, houver descoordenação do ponto de vista da política orçamental, ignorando que estamos num processo de inflação elevada, ou do ponto de vista da política monetária, ignorando que subidas muito rápidas e contínuas trarão problemas na frente económica que depois agravarão um conjunto muito vasto de problemas, teremos muito mais dificuldades”, disse Fernando Medina aos jornalistas à entrada para o encontro de ministros do euro.
Esta sexta-feira, os ministros das Finanças voltam a reunir-se, no formato Ecofin, ou seja, com os 27 da UE.
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