Economia

FMI está a "monitorizar de perto" Reino Unido e apela a que governo reavalie choque fiscal

Bandeira do Reino Unido junto ao mítico Big Ben, no Palácio de Westminster, em Londres
Bandeira do Reino Unido junto ao mítico Big Ben, no Palácio de Westminster, em Londres
JUSTIN TALLIS / AFP / GETTY IMAGES

O Fundo Monetário Internacional alertou para a “desigualdade” que as medidas do novo governo britânico fomentam e para o potencial surto inflacionista atual. Governo norte-americano também está atento

O Fundo Monetário Internacional (FMI) emitiu um comunicado na terça-feira em que disse estar a “monitorizar de perto" a situação económica no Reino Unido, depois da apresentação das medidas de estímulo à economia do novo governo britânico liderado por Liz Truss terem espoletado uma crise cambial e um aumento substancial dos custos de financiamento do país.

“Estamos a monitorizar de perto os desenvolvimentos económicos recentes no Reino Unido e estamos em contacto com as autoridades”, disse o FMI em comunicado na terça-feira.

O Fundo alertou para a possibilidade de, “dadas as elevadas pressões inflacionárias em vários países, incluíndo no Reino Unido, não recomendamos pacotes fiscais grandes e não-endereçados nesta conjuntura, já que é importante que a política fiscal não opere de forma descoordenada com a política monetária”.

O FMI reforçou que “a natureza das medidas do Reino Unido irá provavelmente aumentar a desigualdade", já que o mini-orçamento apresentado pelo ministro das Finanças, Kwasi Kwarteng, na passada sexta-feira incluiu a revisão dos escalões máximos do imposto sobre o rendimento e a abolição dos limite para os bónus dos profissionais da banca.

Por isso, “o orçamento de 23 de novembro” - o principal documento orçamental do Reino Unido com as linhas mestras fiscais para o ano seguinte - "irá proporcionar uma oportunidade antecipada para que o governo britânico analise formas de dar apoio que sejam mais direcionadas e de reavaliar as medidas fiscais, em particular aquelas que beneficiam os de maiores rendimentos".

A libra esterlina já desvalorizou mais de 20% nos últimos doze meses face ao dólar - a 28 de setembro do ano passado, uma libra valia perto de 1,35 dólares.

Desde a apresentação do plano, na sexta-feira passada, sofreu uma forte desvalorização que a fez tocar mínimos de sempre, atingindo, na madrugada de segunda-feira, os 1,03 dólares antes de recuperar para os 1,07 dólares. Na manhã desta quarta-feira, cotava nos 1,06 dólares.

Para acalmar os líderes da finança da City londrina em relação à sustentabilidade fiscal britânica, Kwasi Kwarteng aproveitou uma reunião periódica para assegurar que está otimista: "estou confiante que com o nosso plano de crescimento e o plano fiscal de médio-prazo que ai virá - em cooperação próxima com o Banco de Inglaterra - a nossa abordagem irá funcionar”.

Estados Unidos vigilantes

Os acontecimentos orçamentais do Reino Unido estão a ser monitorizados pelos Estados Unidos, com a secretária de Estado do Tesouro norte-americana, Janet Yellen, a dizer ao Financial Times que está a acompanhar a situação.

Sem comentar o mini orçamento propriamente dito, disse que os mercados estão a “funcionar bem” e que os problemas do Reino Unido não estão a contagiar o resto do mundo.

A taxa de inflação do Reino Unido abrandou para os 9,9%, em máximos de 1982, devido à queda dos preços dos combustíveis nos mercados mundiais, mas deverá, de acordo com as previsões do Banco de Inglaterra, alcançar um máximo de 11% em outubro antes de iniciar uma trajetória descendente.

O banco central pretende continuar a aumentar as taxas de juro para controlar a subida dos preços, antecipando-se já um aumento muito significativo da taxa diretora, atualmente nos 2,25%, na próxima decisão de política monetária, marcada para 3 de novembro - isto se não se justificar um aumento de emergência, possibilidade que o banco afastou na segunda-feira apesar da libra esterlina ter tocado nos 1,03 dólares, um mínimo de sempre.

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