Considerando os dados do Eurostat (que inclui a UE, Noruega, Suíça e Islândia), em 2020 as desigualdades salariais permaneceram inalteradas em Espanha (9,4%) e agravaram-se na Noruega (13,2% para 13,4%), Finlândia (16,6% para 16,7%), Letónia (21,2% para 22,3%) e Portugal (10,9% para 11,4%). De notar que, dos quatro países onde houve aumentos, Portugal é o único onde, ainda assim, a diferença salarial continua abaixo da média europeia.
No geral, olhando para a União Europeia e para a Noruega, Suíça e Islândia, as maiores diferenças salariais encontram-se na Letónia (22,3%), Estónia (21,1%), Áustria (18,9%) e Alemanha (18,3%) e as menores no Luxemburgo (0,7%), que é seguido pela Roménia (2,4%), Eslovénia (3,1%) e Itália (4,2%).
No caso português uma das causas para este agravamento em 2020 pode estar relacionado com a pandemia de covid-19. Sara Falcão Casaca, investigadora e professora do ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa), lembrou ao Expresso que os dados do Eurobarómetro mostraram que "47% das mulheres, mais que na UE, disseram que a covid-19 teve impacto no seu rendimento" e "42% disse ter que dedicar menos tempo ao seu trabalho".
Em Portugal, segundo os dados do Eurostat, a diferença salarial tem oscilado de ano para ano, mas a tendência decrescente que se via desde 2015 (altura em que o fosso salarial se fixou em 16%) inverteu-se após 2018. Nesse ano Portugal tocou o mínimo histórico, com uma disparidade salarial de 8,9%, conforme o gabinete estatístico europeu.
Taxa de emprego diminui nas mulheres com filhos, mas sobe nos homens
Os dados do Eurostat mostram que, em 2020, 77% das mulheres sem filhos entre os 25 e 54 os anos estavam empregadas na UE, número esse que baixa para 72% entre aquelas que tinham filhos. Em Portugal a tendência é a oposta.
Seja com ou sem filhos, por cá a taxa de emprego das mulheres é mais elevada do que a média da UE. Mas com filhos, além de a taxa de emprego ser maior do que entre as mulheres sem filhos (83,5%, que compara com 79,8%), é mesmo a segunda taxa mais alta da Europa, ficando apenas atrás da Eslovénia (85,5%).
A professora do ISEG explicou que a participação das mulheres no mercado de trabalho há muito que não é problema, pois é muito elevada, uma vez que "nem com a maternidade as mulheres se desvinculam do mercado de trabalho". Além do mais, a percentagem que trabalha a tempo inteiro é superior à média europeia, fixando-se em cerca de 90%, disse a especialista.
Se a Eslovénia e Portugal apresentam as duas taxas mais altas das taxas de emprego das mulheres com filhos, Itália e Grécia registam as mais baixas (57,1% e 61,8%, respetivamente).
Relativamente às mulheres sem filhos, a taxa de emprego mais alta encontra-se na República Checa (89,4%) e a mais baixa na Grécia (60,4%).
Já os homens entre os 25 e os 54 anos são afetados positivamente pelo facto de terem filhos. Isto porque a taxa de emprego é maior entre aqueles que têm filhos (91%), face aos que não têm (81%). Neste aspeto a tendência é a mesma em Portugal, com disparidades ainda maiores (93% de taxa de emprego dos homens com filhos, 80,9% sem).
Nota: O Eurostat não tem dados referentes à disparidade salarial em 2019 e 2020 para a Irlanda e Grécia.