Pego: Fundo para a Transição Justa atrai projetos de €266 milhões
Aviso para apoiar investimentos na região Centro que compensem o fecho da central a carvão do Pego recebeu 24 manifestações de interesse
Aviso para apoiar investimentos na região Centro que compensem o fecho da central a carvão do Pego recebeu 24 manifestações de interesse
A antecipação de verbas do Fundo para a Transição Justa (FTJ) para a região Centro, nomeadamente para apoiar projetos que mitiguem o impacto do encerramento da central a carvão do Pego, está a suscitar forte interesse de diversas empresas. Ao que o Expresso apurou, a CCDR – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro recebeu 24 manifestações de interesse, cujos projetos somam investimentos de 266 milhões de euros.
A soma dessas propostas empresariais para a região Centro do país excede largamente o envelope financeiro que deverá ser disponibilizado para projetos que dinamizem a economia local após o encerramento da termoelétrica do Pego. Esse envelope ronda os 30 milhões de euros, dinheiro que será antecipado pelo Estado enquanto não chega a Portugal, efetivamente, o dinheiro do Fundo para a Transição Justa.
O aviso de submissão de propostas de investimento para a região do Médio Tejo esteve aberto nas primeiras duas semanas de dezembro. Foram apresentados cinco projetos de maior dimensão, cada um com um investimento próximo dos 25 milhões de euros.
Um desses projetos é da Tejo Energia (a dona da central do Pego) e visa produzir pellets a partir de biomassa florestal (em substituição do carvão que era queimado na termoelétrica). Outro é do grupo Smartenergy, que quer criar uma unidade de produção de hidrogénio verde com 10 megawatts (MW) de capacidade de eletrólise, servida por uma central fotovoltaica. Um terceiro grande projeto é da Medway, empresa de transporte ferroviário que quer apostar num centro de manutenção e fabrico de vagões de mercadorias. E há ainda dois outros projetos de 25 milhões: um da empresa CME (cujos detalhes não foi possível apurar) e outro da EMI Modular Facade (para uma fábrica de fachadas modulares e painéis térmicos para a construção).
A listagem de interessados, a que o Expresso teve acesso, inclui ainda outros projetos que podem canalizar para a região do Médio Tejo largos milhões de euros. A 1S1 Energy pretende instalar em Abrantes uma fábrica de eletrolisadores com capacidade para 300 MW por ano, que implicará um investimento de 21 milhões. Já a Caima quer investir 20 milhões numa fábrica de ácido acético (um componente do vinagre) com recurso a subprodutos da madeira. A GMF Railway Maintenance quer criar no Entroncamento novas oficinas de fabrico de vagões e locomotivas, num projeto de 14 milhões.
Há também uma proposta de quase 13 milhões para um centro de abate de aves e processamento de carne da empresa Aviários de São Matias, bem como um projeto da EPAL para aplicar 12 milhões na produção de reagentes verdes para desinfeção da água e de hidrogénio para a mobilidade. Já a espanhola Iberdrola tenciona concorrer às verbas do FTJ com um projeto de 11 milhões para produzir hidrogénio verde. E a empresa portuguesa PRF propõe investir quase 8 milhões de euros no fabrico de eletrolisadores.
Entre as manifestações de interesse recebidas pela CCDR Centro estão também projetos para uma nova fábrica de embalagens de cartão, para uma unidade de produção de gás sintético em Vila de Rei e para o aproveitamento de resíduos da produção de colchões, por exemplo.
Os 30 milhões de euros que serão disponibilizados a alguns destes projetos empresariais no Médio Tejo são apenas uma parte dos recursos que o FTJ deverá alocar a Portugal para mitigar os efeitos negativos da transição energética, como o desemprego ligado ao fecho das centrais a carvão do Pego e de Sines e ao encerramento da refinaria de Matosinhos.
O FTJ distribuirá a Portugal 242 milhões de euros, mas em novembro do ano passado o Governo decidiu antecipar €90 milhões, a repartir igualmente pelas regiões do Alentejo, Centro e Norte. Ao que o Expresso apurou, o Governo tem já planos para reservar parte das verbas do FTJ para outros territórios do país que poderão vir a sofrer problemas no futuro: uma dessas regiões será a de Leiria e Marinha Grande, onde o encarecimento do gás natural e das licenças de emissão de dióxido de carbono poderá penalizar algumas indústrias, como a cerâmica, e obrigar a investimentos em soluções de descarbonização.
Nota: Esta é uma republicação do artigo publicado originalmente na edição semanal do Expresso de 14 de Janeiro de 2022.
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