Economia

Horta-Osório: entre o sucesso na reestruturação de bancos e os estragos da pandemia

António Horta-Osório. Foto: Lloyds Banking Group
António Horta-Osório. Foto: Lloyds Banking Group

O banqueiro português com sucesso em reestruturações de bancos estrangeiros não aqueceu o lugar no Credit Suisse. Violou regras de confinamento e suíços não perdoaram

António Horta-Osório assumiu a presidência não executiva do Credit Suisse em maio de 2021 e apresentou a demissão oito meses depois. O banco emitiu um comunicado esta segunda-feira onde agradece o trabalho de Horta-Osório e anuncia de imediato o seu sucessor: Axel P. Lehmann. A curta passagem pelo banco suíço é mais um capítulo, agora breve, de uma longa carreira na banca de um gestor português que nunca deixou de estar debaixo dos holofotes.

Desta vez não teve nenhum burnout (esgotamento), mas o banco suíço abriu uma investigação e concluiu que Horta-Osório tinha violado o desconfinamento. Não se sabe se está na calha a aplicação de uma coima imposta pelas autoridades suíças ao banqueiro.

O desconforto dentro do banco, depois de se ter sabido que Horta-Osório teria violado, por duas vezes, as regras suíças de quarentena relativas à pandemia de Covid-19, a última das quais em dezembro, ao deslocar-se a Portugal poucos dias depois de ter dado entrada na Suíça, sem cumprir o mínimo de 10 dias de quarentena. Também incumpriu o período de isolamento em julho, quando viajou a Londres para assistir ao torneio de ténis de Wimbledon, segundo revelou a agência Reuters.

Apesar de ter estado menos de nove meses no banco como chairman (presidente não executivo), Horta-Osório mexeu na equipa executiva, desenhou uma estratégia para o futuro, que segundo o comunicado do grupo vai ser implementada. E fez um reporte global relativo à análise de risco do grupo. 

Sede do Credit Suisse, em Zurique. Foto: Credit Suisse

Os suíços não perdoam, diz uma fonte ao Expresso, e mesmo tendo renunciado ao cargo pode ter de pagar uma multa. Se Horta-Osório não tivesse renunciado ao cargo, e se a administração o quisesse afastar, teria de haver uma assembleia geral do Credit Suisse, pois foram os acionistas que o elegeram e teriam de ser os acionistas a demiti-lo.

Dez anos no Lloyds com objetivos cumpridos

Com provas dadas no estrangeiro, o banqueiro português saiu do Santander Totta para gerir a operação que o Santander havia comprado no Reino Unido em 2006, o Abbey National. Era até à data presidente executivo do Santander em Portugal. Foi Nuno Amado que lhe sucedeu, mas Horta-Osório manteve-se como chairman do Santander em Portugal.

Assumiu a presidência do Santander Reino Unido até 2010, mas ao contrário do que muitos pensavam, não esperou por um lugar mais alto na estrutura da casa-mãe do Santander. Nesta altura foi Ana Botín que assumiu a liderança do banco no Reino Unido. Cobiçado pelo Lloyd’s Bank, Horta-Osório deixa o grupo Santander para um desafio novo: limpar o Lloyd’s Bank, intervencionado pelo Estado britânico. Tinha 46 anos e segundo o próprio Lloyd’s, na altura, teve um corte salarial face ao que ganhava no Santander Reino Unido. Terá sido mais tarde compensado.

O corte com o grupo Santander, onde trabalhou cerca de 17 anos, foi para liderar o maior banco de retalho britânico e um dos que estão no “top 10” mundial. Assumiu a liderança executiva em março de 2011 e os desafios eram muitos. O Estado britânico tinha ficado com 41% do banco para evitar a sua queda no meio da crise financeira e ao banqueiro português foi entregue a tarefa de devolver o banco ao mercado e recuperar o dinheiro para os contribuintes ingleses. Horta-Osório conseguiu fazê-lo. E em junho de 2021 deixa o Lloyd’s Banking Group 10 anos depois de lá ter entrado, cumprindo o que lhe tinha sido exigido. Em 2017 a instituição já tinha regressado à esfera privada. Teve prejuízos desde o início da crise de 2008, voltou a registar lucros em 2015.

Foi o próprio banco que em comunicado revelou que seis anos depois de o banqueiro português ter assumido a liderança executiva do banco, “o Lloyd’s devolveu na totalidade os 21 mil milhões de libras dos contribuintes ao Estado, e ainda 900 milhões de libras adicionais”, quando Horta-Osório, em julho de 2020, anunciava que deixaria o banco em 2021.

O gestor português, nascido em 1964, teve vários episódios que marcaram a sua passagem por Londres. No final de 2011 teve um esgotamento e o excesso de fadiga obrigou-o a fazer uma pausa nas tarefas diárias que tinha. Nessa altura disse mesmo à imprensa que “era como uma bateria prestes a esgotar-se”.

Chairman no Credit Suisse e reconhecido pela rainha Isabel II

Em 2021, depois de sair do Lloyd’s, o desafio veio da Suíça. Não para ser executivo mas chairman do Credit Suisse, um cargo que embora não tenha tanta pressão como a liderança executiva lhe permitia determinar a estratégia a seguir.

António Horta-Osório. Foto: Credit Suisse

O banqueiro português foi alvo de reconhecimento público em terras de Sua Majestade. Foi condecorado pela rainha Isabel II em junho de 2021, recebendo o título nobiliárquico de Knights Bachelor, entre outros títulos para os quais foi nomeado.

Foi também em 2021 que assumiu a presidência não executiva da farmacêutica portuguesa Bial, a convite de Luís Portela. Entre outros cargos, desde 2011 é administrador não executivo na Fundação Champalimaud.

A liderança não executiva do Credit Suisse começou em maio de 2021 e acabou, precocemente, em janeiro de 2022, sobretudo por Horta-Osório ter violado as regras de confinamento da Suíça por duas vezes, durante a pandemia.

No currículo soma agora não só a formação em gestão pela Católica (1987), pelo INSEAD (1991) e pela Harvard Business School (2003) mas também um misto de experiências profissionais distintas, sempre na área financeira, desde a sua passagem de dois anos pelo Goldman Sachs (no início da década de 1990), à longa carreira no Santander (de 1993 a 2010), passando pela bem sucedida década no Lloyds (2011 a 2021) e, agora, pelo seu mais curto trabalho de sempre, em Zurique.

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