Chama-se Energia Simples e é a segunda empresa de comercialização de eletricidade a cair esta semana no mercado português, fruto da conjuntura de preços recorde no mercado grossista, que obrigaram os comercializadores a reforçar as suas garantias bancárias, sob pena de entrarem em incumprimento e deixarem de poder ter carteiras de clientes em Portugal.
A Energia Simples informou os seus clientes de que vão ser transferidos para o mercado regulado e afirma que irá “sair temporariamente da atividade de comercialização", segundo avançou esta quinta-feira o jornal "Público", informação entretanto confirmada pelo Expresso.
Já no início desta semana, o regulador da energia divulgou que outra pequena comercializadora, a HEN - Serviços Energéticos, iria cessar a atividade e fazer a mesma transferência de clientes para o mercado regulado.
A Energia Simples justifica a retirada, precisamente, com “questões de estratégia” e com “a situação de mercado”. Na carta dirigida aos clientes, a comercializadora apontou um “período de grande instabilidade" e uma volatilidade nos preços “sem precedentes”.
A empresa diz querer continuar a operar na representação de produtores de energia renovável e na compra de energia. Mas comercialização agora só em Espanha, onde “está a correr positivamente”, segundo a Energia Simples indicou ao "Público".
Ao que o Expresso apurou, a Energia Simples tem atualmente uma carteira de quase 7 mil clientes, que agora passarão a ser abastecidos de eletricidade pelo comercializador de último recurso, a SU Eletricidade.
Como aconteceu?
Os problemas para a Energia Simples começaram com a escalada do preço grossista da eletricidade, que deixaram as garantias bancárias da empresa desatualizada. Com preços mais altos no mercado ibérico, os comercializadores são obrigados a acompanhar essas subidas, reforçando as garantias.
E foi assim que no final da semana passada a Energia Simples foi informada de que ou reforçava as garantias ou elas seriam executadas, situação em que a empresa deixaria de estar habilitada para comercializar energia em Portugal.
De acordo com as informações recolhidas pelo Expresso, a empresa portuguesa tentou ainda, nos últimos dias, apelar à Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) para que intercedesse junto dos operadores do sistema elétrico no sentido de travar a execução das garantias, o que não terá acontecido.
No entender dos responsáveis da Energia Simples (marca que pertence à empresa PH Energia), não se justificava o regulador seguir os trâmites previstos nos atuais regulamentos, quando a própria ERSE anunciou há dias uma proposta de revisão do mecanismo de garantias, precisamente para evitar o colapso dos comercializadores.
Ao contrário do que sucedeu com a HEN, a ERSE não emitiu ainda qualquer comunicado relativo à situação da Energia Simples.
"O prazo da consulta de interessados [para a revisão do mecanismo de garantias dos comercializadores] terminou ontem, estando nesta fase a ERSE a analisar os comentários recebidos. A ERSE só se poderá pronunciar sobre casos concretos após a finalização do processo e a aprovação das novas regras que visam preservar o funcionamento do mercado da energia, limitando os impactes adversos sobre o setor", adiantou o regulador, quando questionado pelo Expresso sobre o caso da Energia Simples.
(Notícia atualizada às 14:45 com comentário da ERSE)
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