Moody’s mexe nos ratings da banca e tira CGD do “lixo” (mas deixa-a longe da nota pré-troika)

Banco público fica com dívida avaliada no nível mais baixo em que agência aconselha investimento
Banco público fica com dívida avaliada no nível mais baixo em que agência aconselha investimento
Jornalista
É uma subida de apenas um degrau, mas tem significado. Ao fim de mais de dez anos, a Caixa Geral de Depósitos conseguiu que a sua dívida de longo prazo deixasse de ser considerada um investimento especulativo (ou "lixo") para a agência norte-americana Moody’s. Foi a mais significativa, em termos simbólicos, das mexidas em ratings de 11 bancos da Península Ibérica, devido a uma nova fórmula de cálculo.
“A Caixa Geral de Depósitos, S.A. informa que, em 13 de julho de 2021, a Moody’s Investor Service subiu em um nível o rating de dívida sénior de longo prazo da CGD de Ba1 para Baa3 e da dívida sénior de curto-prazo, incluindo Comercial Paper, de Not Prime para o nível P-3”, indica o comunicado do banco presidido por Paulo Macedo enviado esta terça-feira, 13 de julho, à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
A Moody’s fez uma revisão do enquadramento em que calcula as perdas em caso de incumprimento, que aplica a bancos que operam em regiões onde há regimes de resolução – caso da Europa. Foram alvo de avaliações um total de 11 bancos ibéricos, sendo que a CGD foi o único que, com esta mudança, deixou o terreno em que a agência não aconselha o investimento.
“Esta elevação da dívida sénior de longo e curto prazo da CGD marca o regresso à categoria de investment grade pela Moody’s, após um período de dez anos, constituindo um importante marco na evolução e no posicionamento da Caixa no mercado, e ocorre na sequência de três subidas verificadas durante a implementação do Plano Estratégico 2017- 2020, fruto do progressivo reforço da solidez, rentabilidade e qualidade dos ativos”, indica o comunicado.
A Moody’s explica, no seu comunicado, que a revisão em alta desta classificação deve-se à nova forma de análise, que “captura melhor as características de risco das classes de dívida”.
Já a CGD, em nota às redações, lembra que foi em abril de 2011, quando Portugal pediu ajuda externa e em que houve um cerco aos bancos nacionais, que viu o seu "rating" ficar abaixo de “A1”, uma das notações em que o investimento era aconselhado. Só em 2015 deixou de haver cortes, mas só em 2017 se iniciaram as subidas. Desde outubro de 2018 que o banco esperava a subida para terreno positivo. Mas ainda fica a cinco degraus daquele "A1" pré-troika.
“Com esta alteração a CGD é agora notada em nível de investment grade por duas das principais agências internacionais”, diz o banco – a Fitch ainda dá uma nota negativa, mas a DBRS tem a Caixa em terreno positivo.
Nos restantes bancos nacionais, o BCP e o Banco Montepio verificaram subida do rating de programas de dívida (e não da dívida propriamente dita), sendo que o BPI verificou melhorias no seu estatuto de emitente, passando a estar dois patamares acima de “lixo”, graças ao apoio da sua casa-mãe, o CaixaBank.
Os ratings são avaliações deixadas por agências especializadas, que servem de barómetro para que os investidores possam saber qual o risco dos instrumentos de dívida. São, por isso, importantes na hora de pedir financiamentos, como tem de acontecer para cumprir as exigências regulatórias.
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