Os dados do Instituto Nacional de Estatística mostram que vários sectores de atividade estão com níveis de emprego acima do que tinham antes da pandemia. Destaque vai para as atividades de informação e de comunicação, mas não fica por aqui
Os tempos são de crise, com a pandemia de covid-19 a cobrar um preço elevado sobre a economia portuguesa e o mercado de trabalho nacional. Desde o início do surto de coronavírus, o emprego caiu e o desemprego aumentou. Mas, a crise não é para todos. Se há sectores em grandes dificuldades, como o turismo, outros estão a reforçar o emprego, mostram os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicados esta quarta-feira.
Quando se compara o terceiro trimestre com os primeiros três meses do ano, para traçar o retrato do impacto da pandemia, conclui-se que se perderam 66 mil empregos, em termos líquidos (ou seja, contabilizando o emprego destruído e o emprego criado), em Portugal. Isto apesar de alguma recuperação no terceiro trimestre, depois de o emprego ter afundado no segundo trimestre, quando o confinamento originou um trambolhão na economia.
Sem surpresas, são os sectores no olho do furacão da crise que mais perdem emprego. Com destaque para o alojamento, restauração e similares, onde se perderam 38,2 mil postos de trabalho (menos 11,8%). O que ilustra a situação complicada que o sector do turismo atravessa em Portugal e no mundo.
Também as atividades administrativas e dos serviços de apoio sofrem uma redução marcada, com menos 24,2 mil postos de trabalho (redução de 14,3%), bem como o sector dos transportes e armazenagem, com menos 21,5 mil empregos (menos 9,5%).
Mas, há quem esteja a reforçar emprego. E em força. O destaque aqui vai para as atividades de informação e de comunicação, com mais 30,1 mil posto de trabalho (aumento de 23,4%) no terceiro trimestre, por comparação com os primeiros três meses do ano.
É aqui que estão os "vencedores" da crise, com um reforço das empresas tecnológicas, associado a fenómenos como a expansão do teletrabalho e das conexões remotas, bem como do comércio on-line.
O segundo maior reforço acontece nas atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares, com mais 17,4 mil empregos (aumento de 8%), seguindo-se as atividades financeiras e de seguros, com mais 8,1 mil postos de trabalho (incremento de 9%).
Nota ainda para o sector da construção, que os economistas têm vindo a apontar como um dos que mais se tem destacado pela positiva em Portugal durante a pandemia, com um aumento de 5,3 mil empregos (aumento de 1,8%) entre o primeiro trimestre deste ano e o terceiro trimestre.
Uma análise da evolução do emprego por nível de qualificações dos trabalhadores corrobora esta análise sectorial. Desde o início da pandemia, o emprego recua em força para os níveis de escolaridade mais baixos, com uma redução de 122,7 mil postos de trabalho entre os trabalhadores que têm apenas o ensino básico (até ao 9º ano de escolaridade).
Ao nível do ensino secundário e pós-secundário a redução é de 10 mil postos de trabalho entre o primeiro e o terceiro trimestre deste ano.
Recorde-se que o sector do alojamento e restauração emprega uma fatia importante de trabalhadores com baixas qualificações.
Em sentido inverso, verifica-se um reforço do emprego para qualificações ao nível do ensino superior, com mais 66,8 mil postos de trabalho.
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