Economia

Covid-19. É preciso solução para seguros de crédito, ou então exportadoras vão sofrer, avisa Santander

Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander em Portugal
Pedro Castro e Almeida, presidente executivo do Santander em Portugal
Nuno Fox

Há burocracia nas linhas de crédito, mas é necessária para assegurar algum controlo, defende Pedro Castro e Almeida

Covid-19. É preciso solução para seguros de crédito, ou então exportadoras vão sofrer, avisa Santander

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Covid-19. É preciso solução para seguros de crédito, ou então exportadoras vão sofrer, avisa Santander

Isabel Vicente

Jornalista

O Santander Totta alerta que é necessário olhar para os seguros de crédito, produto contratado sobretudo por empresas exportadoras, que estão a perder proteção em Portugal. Se não houver uma atuação, estas empresas vão sofrer.

São instrumentos críticos para a fluidez das trocas comerciais, nacionais ou internacionais. Temos assistido, em Portugal, a reduções de plafonds [de cobertura] que ultrapassam os 60%”, declarou no Parlamento o presidente executivo do banco, Pedro Castro Almeida, frisando que o comportamento é oposto ao que acontece em países como Espanha ou Alemanha. Com receio de incumprimentos, as seguradoras baixam a cobertura.

Se este tema dos seguros de crédito não for endereçado, no sentido de manter o nível de cobertura das empresas, temo que [as exportadoras, sobretudo] venham a passar por tempos muito complicados”, avisou o responsável. Estes seguros de crédito garantem a cobrança de um crédito a que tem direito no caso de incumprimento do devedor.

Segundo sublinhou, a questão deve-se à dependência do mercado face à Cosec. O Estado devia ter uma empresa que presta estes produtos ou então deveria ponderar apoio à empresa, opina. "Não é uma questão que passe pelos bancos", ressalvou.

Ainda esta tarde, a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) defendeu que o Estado "tem de garantir uma cobertura de risco às seguradoras de crédito, como acontece nas linhas de financiamento bancárias, através das sociedades de garantia mútua". "Com a inevitável dilação dos prazos de pagamento a fornecedores, as seguradoras de crédito estão a reduzir drasticamente a percentagem de cobertura nos créditos", explica a associação, em comunicado.

Clientes excluídos que não são prioridade

Na sua audição na comissão de Orçamento e Finanças, Castro e Almeida frisou que “o grande desafio vai ser, daqui para a frente, quando a economia começar a abrir, e se começar a perceber qual vai ser o novo normal”. Há empresas, sublinhou, que vão abrir com quedas de 50% da faturação. Como vão sobreviver?, é uma questão.

Para já, “a primeira prioridade é salvar as empresas que são viáveis”. “Aquelas que já estavam quebradas antes da covid-19, não estão nessa primeira prioridade”, disse. Em relação ao acesso às linhas de crédito garantidas pelo Estado, as queixas que o banco tem recebido são da parte das empresas que já tinham dificuldade antes da pandemia e também pelos clientes que estão há mais de 90 dias em incumprimento.

Assim, Pedro Castro Almeida alerta, tal como fez Miguel Maya, para o facto de haver empresas com créditos vencidos que não conseguem aceder as linhas de apoio com garantia do Estado e que este é um problema europeu. "Não há solução" e estas empresas "vão ter maiores dificuldades".

Há burocracia, mas o controlo é necessário

Em relação às críticas que têm sido dirigidas à dificuldade no acesso às linhas de crédito, Castro e Almeida sublinhou que “todo o processo tem requisitos de documentação que obrigam os clientes a perder algum tempo”. “Acredito que, para algumas microempresas, seja um processo complicado”, frisou, acrescentando que, para as restantes empresas, os documentos já são aqueles com que habitualmente trabalham quando precisam de créditos.

Tal como o BPI e o BCP, Castro Almeida afirma que o Santander não pede mais documentos do que os exigidos pelas sociedades de garantia mútua (que vão formalizar a garantia do Estado aos empréstimos bonificados). “Se as sociedades de garantia mútuas nos pedem o balancete dos últimos 9 meses, não é um tema do banco”, declarou. Se não aceita a candidatura sem isso, o banco tem de pedir às empresas esse documento. “Não pedimos as contas de 2019, nem o balancete do final do ano”, porque o que é exigido é o balancete com pelo menos 9 meses de antiguidade, continuou.

“A única exigência que tem sido recebida com algum desconforto é a declaração de manutenção dos postos de trabalho até ao final do ano. Há muitos empresários que não se podem comprometer”, declarou o banqueiro, indo ao encontro de algo que o Expresso já tinha dado conta.

Castro Almeida disse aos deputados, porém, que é preciso um controlo quando se trata de uma ajuda do Estado a ser concedida.

"O Santander não tem, que eu conheça, nenhuma queixa dos nossos clientes sobre o tempo de duração de aprovação, mas acredito que possa haver, com tanto barulho que há, mas estará muito concentrado nas microempresas", defendeu-se.

Fora destas linhas protocoladas com o apoio do Estado, o Santander deu créditos de 500 milhões de euros, segundo revelou o presidente executivo da instituição.

Moratórias com impacto de mil milhões no banco

Até aqui, o Santander já contou com pedidos de 70 mil moratórias (de empresas e particulares) no valor global de 7,5 mil milhões de euros.

O responsável pelo Santander em Portugal sublinhou que o efeito das moratórias de crédito (suspensão do pagamento de capital e/ou juros) “terá um impacto de 1000 milhões de euros no banco”, acrescentando que é bom que se diga que "as moratórias no crédito à habitação e nas empresas “é um risco assumido pela banca, não há aqui qualquer risco do Estado”. Mais de um quarto da carteira do Santander encontra-se sob a suspensão de pagamento, tinha já assumido o banqueiro na semana passada.

O responsável do banco português de capitais espanhóis alertou para o facto de só daqui a seis meses se verificar um grande desafio - é aí que se vai saber se as empresas e os particulares poderão recuperar para voltar a pagar as prestações. No caso das moratórias de crédito ao consumo, sob a moratória privada, o prazo é 12 meses.

Em relação às moratórias, o presidente do Santander afirma que são feitos pedidos, no âmbito do regime público, que os bancos não podem recusar, e quando são feitos os pedidos "o banco suspende de imediato” o pagamento das prestações - o que nem todos os bancos fazem já que há pedidos que são feitos e em que o cliente espera um mês para a suspensão do pagamento.

Receitas da banca vão cair

Pedro Castro Almeida referiu ainda que Portugal não difere do resto da Europa quanto às dificuldades que se colocam no financiamento urgente à economia. Em particular na dificuldade de financiamento às microempresas e empresas em reestruturação e com créditos vencidos, assim como as burocracias das sociedades de garantia mútua. “É um tema igual em todo o lado", diz.

E os bancos vão sentir o impacto: “As receitas vão cair, e as provisões irão também aumentar de forma significativa”.

Segundo estimativas de Castro Almeida, o sistema bancário nacional vai registar um aumento de provisões de entre 2 mil milhões e 6 mil milhões nos próximos anos. No último ano, ascenderam a 1000 milhões.

Bónus? Não há expectativas

Em relação à distribuição de bónus aos administradores - e depois de Miguel Maya ter anunciado que a sua proposta é que não exista no BCP -, Pedro Castro e Almeida referiu que o assunto ainda não existe. "Não tenho instruções nenhumas do meu acionista, mas posso dizer que expectativas são baixíssimas", declarou.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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