Rosa Cullell recebeu 220 mil euros de compensação pela saída da TVI. E espera mais 300 mil
Rosa Cullell, ao centro, quando negociava a venda (depois falhada) da Media Capital à Altice
Luis Barra
Compensação da antiga líder da Media Capital ascende a mais de meio milhão. Administrador delegado Luís Cabral poderá auferir 785 mil euros caso seja afastado pela nova acionista. Cofina está a comprar a Media Capital
Mais de meio milhão de euros é quanto Rosa Cullell está a receber pela saída antecipada da Media Capital, que aconteceu em julho passado. Por ter saído de funções antes do termo do mandato, a antiga jornalista teve direito a uma compensação de 220 mil euros. Pela cessação do seu contrato, vai ter direito a mais 300 mil euros.
Os números estão inscritos no relatório de gestão de 2019 da Media Capital, dona da TVI, Plural e da Rácio Comercial, que foi publicado esta quinta-feira na página eletrónica da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Naquele ano, divulgou a empresa, agora dirigida por Luís Cabral, registou prejuízos de 55 milhões de euros.
“Durante o ano de 2019 foi liquidada indemnização pela cessação de funções a 12 de julho de 2019, da administradora delegada Dra. Rosa Cullell, no montante de €220.000 correspondente a compensação pela remuneração relativa ao remanescente dos meses do mandato em curso (meses de julho a dezembro de 2019)”, revela o documento.
Rosa Cullell saiu da dona da TVI a 12 de julho de 2019, quando o seu mandato só terminava no final do ano. Esteve naquela função por oito anos.
Mas, além daquela compensação, encontra-se “pendente de pagamento o montante de €300.000 a titulo de compensação pela cessação do contrato de comissão de serviços”. A indicação consta na rubrica das “indemnizações pagas ou devidas a ex-administradores executivos relativamente à cessação das suas funções” durante 2019.
Além destes montantes, a gestora da Media Capital (companhia que ainda pertence à espanhola Prisa, embora esteja a ser comprada pela Cofina) recebeu até julho salários na ordem dos 166.900,02 mil euros, a que se somaram ainda 269.690 mil euros de remuneração variável referente ao exercício de 2018 (“prémio de performance”).
Juntando todas as rubricas, a antiga responsável pela TVI auferiu quase 1 milhão de euros, entre salários e compensações.
Em 2018, Rosa Cullell tinha recebido uma remuneração fixa de 377 mil euros, a acrescer a uma remuneração variável de 188 mil euros.
Administração recebe 1 milhão
“As remunerações auferidas pelos membros do conselho de administração da sociedade, no exercício findo em 31 de dezembro de 2019 de forma agregada no Grupo Media Capital ascende a €1.064.031,28, incorporando as remunerações auferidas pelos membros executivos, em exercício (até 12 de julho de 2019 e após 12 de julho de 2019) e pelos membros não executivos”, indica o documento.
Nesta conta, não entram os 300 mil euros cujo pagamento a Rosa Cullell ainda está pendente, mas entra já a compensação de 220 mil euros.
Também António Pires de Lima e Miguel Pais do Amaral, que saíram na mesma data dos seus cargos de administradores, receberam compensações de 18 mil e 68 mil euros, respetivamente.
Luís Cabral, o administrador delegado da Media Capital desde julho, auferiu 137 mil euros.
O relatório de gestão da Media Capital divulga ainda que há a possibilidade de a empresa ter de pagar outra indemnização. E dá mesmo um valor.
“Não existem acordos entre a sociedade e os titulares do órgão de administração e dirigentes, que prevejam indemnizações em caso de demissão, despedimento sem justa causa ou cessação da relação de trabalho na sequência de uma mudança de controlo da sociedade, exceto para o caso de cessação de funções do administrador delegado na sequência de uma mudança de controlo acionista da sociedade, no montante de €785.000,00”, revela o comunicado.
A Media Capital, que registou prejuízos no ano passado depois de a TVI perder a liderança televisiva para a SIC (da Imprensa, dona do Expresso), está a ser comprada pela Cofina, detentora do Correio da Manhã e da CMTV. A operação aguarda os detalhes finais.
A 20 de março, realiza-se a assembleia-geral da Media Capital, onde serão designados os novos órgãos sociais para o próximo mandato – ainda não há uma proposta entregue à CMVM.
Nessa operação, a Cofina definiu um direito de ser indemnizada em eventuais derrotas em processos judiciais da Media Capital.
O Expresso contactou a Media Capital, que não quis fazer comentários.