Economia

Fusão que assegura viabilidade de seguradora do Montepio foi autorizada no penúltimo dia de 2019

Fusão que assegura viabilidade de seguradora do Montepio foi autorizada no penúltimo dia de 2019
LUÍS BARRA

Na situação em que se encontrava, e sem que entrasse mais dinheiro, a N Seguros não demonstrava "viabilidade económica". O risco de incumprimento do rácio de solvência era efetivo. Por isso, a companhia automóvel foi integrada na Lusitania. Uma operação que mereceu luz verde do supervisor a um dia do ano terminar

Fusão que assegura viabilidade de seguradora do Montepio foi autorizada no penúltimo dia de 2019

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Foi perto do final de 2019 que o Grupo Montepio teve autorização do supervisor para promover uma fusão na sua área seguradora. A operação visou impedir o risco “efetivo” de a N Seguros não cumprir as exigências de solidez e de mostrar a sua inviabilidade.

A evolução desfavorável da situação financeira da N Seguros nos últimos anos e, em particular, a recente degradação do seu resultado técnico e a necessidade de reforço do provisionamento, colocaram a N Seguros em risco efetivo de incumprimento do nível de solvência no final do exercício de 2019”.

Este é o ponto de partida, descrito no projeto de fusão publicado pela N Seguros, que obrigou a mudanças na área seguradora que pertence à Associação Mutualista Montepio Geral. A N Seguros, companhia do ramo automóvel, não demonstrava “viabilidade económica” caso não houvesse reforço de fundos próprios. Não houve. A opção do grupo, até na sequência de conversações com a Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), foi integrá-la na Lusitania, a maior seguradora do grupo, como o Expresso noticiou.

Só que a operação necessitava de luz verde oficial. Foi essa autorização que chegou já perto do fecho do ano, impedindo que se registasse o potencial risco de incumprimento do rácio de solvência.

Na reunião de 30 de dezembro de 2019, a administração da ASF liderada por Margarida Corrêa de Aguiar deu duas autorizações: primeiro, para que houvesse a integração da N Seguros na Lusitania – Companhia de Seguros; depois, para que a Lusitania pudesse ficar com 100% dos direitos de voto da N Seguros.

A fusão, responde a Lusitania ao Expresso, terá efeitos a 31 de dezembro: “A N Seguros foi incorporada na Lusitania, Companhia de Seguros, S.A. através de um processo de fusão, com efeitos a 31 de dezembro de 2019”.

Apesar de deixar de ser uma entidade jurídica autónoma, a insígnia N Seguros continuará a existir e a distinguir-se da Lusitania – Companhia de Seguros, da área não vida (automóveis, acidentes de trabalho, saúde, etc) e da Lusitania Vida (produtos de investimento como planos poupança reforma – PPR). “A N Seguros continuará, porém, a existir enquanto marca da Lusitania e a exercer a sua atividade no âmbito do seguro direto de particulares com a qualidade que lhe é reconhecida”, continua a mesma fonte.

Antes de integrar a N Seguros, a Lusitania fez uma operação que pretendia reforçar os seus fundos próprios, financiando-se em 7,5 milhões de euros. A seguradora não quis revelar perante quem ficou com essa dívida (empréstimo obrigacionista), mas, nas últimas operações, tinha sido a própria casa-mãe, a associação mutualista, a garantir tal ajuda.

A Lusitania pertence à maior associação mutualista do país, com 600 mil associados, que é também a dona do Banco Montepio. As três entidades viveram, no ano passado, mudanças nas suas lideranças: a mutualista deixou de ser dirigida por António Tomás Correia, que deixou o cargo após dúvidas sobre a sua idoneidade levantadas pela ASF, e passou a ter o até aqui administrador Virgílio Lima à sua frente; o banco já tem um presidente executivo, Pedro Leitão, ao fim de meses de dúvidas sobre quem ficaria ao leme; a Lusitania passou a ser liderada por Maria Tranquina Rodrigues, que acumula o cargo executivo com a presidência da administração, depois de o até aí presidente, Fernando Dias Nogueira, ter sido alvo de condenação pela Autoridade da Concorrência no âmbito do cartel dos seguros e de tal ter levantado dúvidas à ASF para o seu registo.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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