A principal seguradora do Grupo Montepio, a Lusitania, realizou uma nova emissão de dívida, num esforço para reforçar a sua solidez. Nas últimas operações deste género, realizadas em 2018, foram os associados da casa-mãe, a mutualista, que tiveram de avançar com o dinheiro. Agora, o grupo recusa-se a revelar quem emprestou 7,5 milhões à companhia, apesar das sucessivas questões colocadas pelo Expresso.
Foi em outubro que a gestão da empresa do universo mutualista deliberou uma emissão de obrigações de 7,5 milhões de euros. Desde 11 de novembro que o Expresso tem colocado questões sobre o tema. Inicialmente, a companhia – que está em processo de mudança de gestão, depois de Fernando Dias Nogueira esbarrar nas dúvidas do supervisor, – remeteu para um comunicado que tinha publicado sobre o cartel dos seguros. Nada mais iria dizer. Só depois de questionada novamente é que a companhia, agora sob os comandos de Maria Traquina Rodrigues, respondeu.
“A Lusitania confirma que emitiu, no final de outubro, um empréstimo obrigacionista subordinado no montante de 7,5 milhões de euros, em condições de mercado, no âmbito da gestão dos seus fundos próprios”, assumiu a companhia, que empregava 502 funcionários. No entanto, ficou por responder quem tinha subscrito este empréstimo.
No ano passado, foram realizadas duas operações idênticas e, nos dois casos, foi a associação mutualista, de que António Tomás Correia continua a ser presidente, a entrar com o dinheiro. A Montepio Geral – Associação Mutualista controla a Lusitania através de uma "holding" por si controlada, a Montepio Seguros SGPS. Mas esta subscrição das obrigações não foi a única ajuda.
“Com vista a assegurar o cumprimento do rácio de cobertura no médio prazo, e de acordo com os objetivos estratégicos de gestão do capital, foi deliberado pelo Acionista maioritário – Montepio Seguros SGPS – e o Montepio Geral – Associação Mutualista, durante o ano 2018, o reforço de fundos próprios da Lusitania no montante global de 50 milhões de euros”, indica o relatório e contas da companhia relativo ao ano passado.
Especificamente, “o aumento dos fundos próprios foi realizado através do reforço de 35 milhões de prestações acessórias sob a forma de prestações suplementares de capital, efetuado pela Montepio Seguros, e pela tomada firme pelo Montepio Geral – Associação Mutualista de dois empréstimos obrigacionistas subordinados emitidos pela Lusitania no montante global de 15 milhões de euros”. As subscrições de obrigações foram feitas com taxa de juro a 10%. Não foram revelados dados sobre a nova emissão - só deverá ser no relatório e contas do próximo ano.
Também a associação mutualista, nas várias vezes que foi contactada, nada respondeu. A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF) não respondeu se esteve envolvida na exigência do reforço dos fundos próprios da companhia seguradora.
A Lusitania é o principal ativo da área seguradora do Montepio (que agrega ainda a Lusitania Vida, N Seguros e Futuro). Tomás Correia esteve para vender o seu controlo a um grupo chinês, o CEFC China Energy, mas acabou abortada pela ASF. O líder do grupo sairá a 15 de dezembro do seu cargo, ainda que deixando o plano de ação e orçamento para os próximos três anos (é discutido hoje no conselho geral da associação).
Os mutualistas têm vindo a ser chamados a ajudar não só a área seguradora como também o Banco Montepio, alvo de sucessivos aumentos de capital desde a crise. Aliás, o Público noticia esta sexta-feira que os desequílíbrios atualmente existentes na associação mutualista aproximam-se dos mil milhões de euros, que podem ter de ser resolvidos pelos associados.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt