A comemorar século e meio de vida, a Corticeira Amorim vai avançar com uma proposta de mobilização de produtores florestais ao longo do ano, tendo por meta a plantação de 50 mil hectares de sobreiros para o horizonte 2030. De acordo com António Rios Amorim, presidente executivo da corticeira que exporta 93% da produção para os quatro cantos do mundo, um “aumento de 7% da atual área de sobro em Portugal irá impulsionar a produção de matéria-prima em cerca de 35%”.
A iniciativa lançada no âmbito do Projeto de Intervenção Florestal (PIF), lançado há sete anos e liderado pelo maior exportador mundial de cortiça, visa “assegurar a manutenção e valorização das florestas de sobreiro”, de forma a permitir uma maior produção de cortiça de qualidade, “100% natural”.
O exemplo de reflorestação colaborativa de sobreiros foi dado pela Corticeira Amorim e pela Quercus, em novembro último, quando mais de 100 voluntários do grupo e da associação ambientalista se juntaram para plantar 2000 sobreiros, em Alcácer do Sal. A aposta na plantação em território nacional é encarada com um dos pilares de desenvolvimento do grupo, desafio a implementar em parceria com outros produtores florestais, mas também com instituições de investigação científica e biotecnologia. “As espécies nativas são fundamentais na defesa contra as alterações climáticas, são um investimento sustentável e rentável”, antecipa.
Para maximizar o montado e garantir um retorno menos moroso da extração da cortiça, a Corticeira Amorim investiu ainda, em 2018, 5,5 milhões na Herdade da Baliza, em Castelo Branco, num processo pioneiro de irrigação de sobreiros, num período de crescimento inicial, “gota a gota”, método que António Rios Amorim diz aumentar a taxa de sobrevivência dos sobreiros, bem como antecipar a extração de cortiça de 25 anos para 10 anos.
Apesar de o Grupo Amorim apostar cada vez mais na diversificação do negócio, em particular na fileira dos materiais de construção, como pavimentos, revestimentos ou base para campos de relva sintética, a rolha continua a ser a lei fundamental do negócio da cortiça, com uma produção de €25 milhões de rolhas por dia, €5,5 mil milhões/ano, o dobro da produção total de 2004. Para assegurar o crescimento deste filão, a família Amorim anuncia que irá inaugurar em abril uma nova fábrica em Adelaide, na Austrália, um investimento de €3,5 milhões para responder ao crescimento da procura no país onde o negócio “duplicou em três anos”.
De acordo com Rios Amorim, o volume de negócio é justificado pela produção de 700 milhões de garrafas de vinho por ano com rolhas de cortiça, mercado que disparou devido ao crescente culto do vinho por parte da China, que se tornou “o principal cliente” dos vinhos da Austrália.
Ainda este ano ou em 2021, a Corticeira Amorim revelou que irá abrir também uma nova fábrica no Chile, em parceria com um grupo local, empreendimento que custará 4,5 milhões. Até ao final do ano, outra das garantias da Corticeira que tem nove mil clientes globais, universo que “cresce entre 500 a 1000 por ano”, segundo Cristophe Fouquet, presidente executiva da Amorim & Irmãos, SA, é a produção de rolhas de TCA (gosto a rolha).
Américo Amorim, “o trator e alavanca da corticeira”
Durante a cerimónia que assinalou as celebrações do conglomerado nascido em 1870, esta quinta-feira, em Santa Maria de Lamas, Rios Amorim lembrou que, atualmente, 60% da cortiça Amorim é portuguesa, 30% plantada em Espanha e 10% no norte de África. “Nenhuma árvore, como o sobreiro, dá tanto exigente tão pouco. Este foi e é o nosso mote”, sublinhou. No dia em que a quarta geração Amorim deu início às celebrações dos 150 do legado familiar, o presidente executivo do Grupo Amorim advertiu ainda que, por muito que o passado os orgulhe, está convencido que o “futuro será ainda melhor”. “Somos inconformados”, afirmou, dando como exemplo genético dessa rebeldia Américo Amorim, “o trator e a alavanca” da empresa.
Durante a cerimónia, Paula Amorim, presidente do Grupo Amorim e filha do falecido empresário Américo Amorim, fez questão de elogiar a paixão do tio António, de 91 anos e presente no evento, pela cortiça e pela empresa, lembrou as venturas e desventuras do grupo familiar, que viu a sua fábrica extinta pelo fogo em 1944, mas reerguida um ano depois e pronta para enfrentar os desafios do pós-guerra. “Fomos para África, para as américas e para a Austrália, demos a volta ao mundo”, enfatizou Paula Amorim, sem esconder o orgulho de a empresa da família ter estado “na vanguarda do mercado livre e modernização da economia nacional”.