Banif caiu há quatro anos e há uma fatura para a banca que ainda não chegou
Credores continuam sem saber se vão receber alguma compensação caso tenham saído prejudicados na resolução
Credores continuam sem saber se vão receber alguma compensação caso tenham saído prejudicados na resolução
Jornalista
O Banif deixou clientes lesados, entre os quais acionistas e os investidores que tinham obrigações subordinadas que, segundo a legislação europeia, são aqueles que têm de suportar perdas numa intervenção bancária. Foram feitos estudos para saber se havia margem para alguma solução que lhes diminuísse as perdas, mas a lei define mesmo que tem de ser feita uma auditoria que confirme se (e quanto) têm algo a receber. E essa é uma fatura que pode engordar ainda mais os encargos para o Fundo de Resolução.
A Baker Tilly foi a responsável selecionada para fazer a auditoria ao Banif que é obrigatória por lei. O objetivo é assegurar que um credor de um banco não pode sair mais prejudicado numa resolução do que sairia se, na mesma data, o banco tivesse sido atirado para liquidação. Para isso, é preciso a referida auditoria, há dois anos a ser feita.
Havendo uma diferença, é o Fundo de Resolução, o veículo financiado pelos bancos que tem precisado de empréstimos estatais para cumprir as suas obrigações, que tem de assegurar o pagamento. Neste momento, e dois anos depois de ter sido escolhida, a Baker Tilly ainda não finalizou os trabalhos.
O Banif foi intervencionado dia 20 de dezembro de 2015. Houve uma divisão por três. A principal carteira de ativos e passivos foi para o Santander Totta, para onde transitaram os obrigacionistas seniores; os ativos que o banco não quis foram para o veículo então criado Oitante; no Banif, que foi para liquidação anos depois, permaneceram as posições dos acionistas e obrigacionistas subordinados.
Ora, os credores seniores (comuns) do Banif passaram para o Santander, pelo que não foram prejudicados. O mesmo não se sabe em relação aos obrigacionistas subordinados e a acionistas. Só a auditoria o irá concluir. O Banco de Portugal, responsável por mandatar a auditoria, não respondeu ao motivo da sua não entrega.
No caso do BES, que foi alvo de avaliação pela Deloitte, os obrigacionistas subordinados a nada tinham direito, nem tão pouco os acionistas. Já os comuns teriam conseguido recuperar, caso o BES tivesse sido liquidado logo a 3 de agosto de 2014, 31,7% do seu investimento. Ou seja, se não conseguirem recuperar esse valor da liquidação do BES que só agora está a acontecer, e já na sequência da resolução, o Fundo de Resolução tem de fazer face a esse encargo. Arrisca, por isso, cerca de 700 milhões.
No Banif, a liquidação que está em curso não augura grande recuperação para os credores. Os últimos números conhecidos são relativos a 2016 e apontam para um ativo que cobre apenas 8% do passivo.
Se a auditoria eventualmente determinasse uma percentagem de recuperação superior, o Fundo de Resolução teria de pagar a diferença. Sendo abaixo, nada tem que desembolsar.
O Fundo de Resolução tem uma situação completamente deficitária, com recursos próprios negativos de 6,1 mil milhões de euros - tem precisado de empréstimos estatais para fazer face às suas obrigações, sendo que terá de os reembolsar até 2046.
A par desta auditoria, a Ordem dos Advogados organizou uma comissão de peritos, que concluiu que 77% das reclamações feitas por clientes lesados do Banif podem ser passíveis de uma solução idêntica à encontrada para os titulares de papel comercial dos clientes do BES. Mas os trabalhos ainda agora começaram.
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