Economia

Governo antecipa fim da produção de eletricidade com carvão para 2023

Governo antecipa fim da produção de eletricidade com carvão para 2023
Luís Barra

Executivo de António Costa anuncia um calendário de abandono do carvão mais ambicioso do que o prometido pelo PS antes das eleições. É exequível? Sim, mas com alguns riscos no horizonte

Governo antecipa fim da produção de eletricidade com carvão para 2023

Miguel Prado

Editor de Economia

O Governo de António Costa manteve no programa apresentado este sábado a generalidade das promessas feitas no programa eleitoral do Partido Socialista em matéria de energia, com uma diferença: o Executivo quer antecipar para 2023 o fim da produção de eletricidade a partir do carvão, com um calendário mais ambicioso que o anunciado no programa do PS, que apontava o encerramento da central termoelétrica de Sines para o período de 2025 a 2030.

No seu discurso de tomada de posse, este sábado, o primeiro-ministro, António Costa, revelou que no capítulo da transição energética o Governo irá antecipar o fecho da central a carvão do Pego (da Tejo Energia) para 2021, enquanto a central de Sines (EDP) "cessará totalmente em setembro de 2023".

É uma meta mais ambiciosa e para a cumprir o Governo de António Costa conta sobretudo com duas garantias de segurança do sistema elétrico nacional: a conclusão da construção das barragens do Alto Tâmega (a cargo da Iberdrola) e uma nova linha de alta tensão no Algarve, prevista para meados de 2022.

Para a antecipação do calendário de abandono da eletricidade produzida a partir do carvão terá contribuído a constatação de que o sistema elétrico nacional consegue sobreviver durante períodos prolongados sem qualquer produção termoelétrica a carvão, como aconteceu em agosto, com 19 dias consecutivos sem carvão, conforme o Expresso noticiou a 8 de setembro.

Por outro lado, a falta de competitividade das centrais a carvão agravou-se este ano. Esta semana o centro de estudos Carbon Tracker estimou que o grupo EDP deverá perder mais de 400 milhões de euros com as suas centrais a carvão na Península Ibérica, pelo facto de as receitas obtidas com a venda da eletricidade no mercado serem insuficientes para cobrir os custos das centrais.

Embora ambiciosa, a meta do Governo de antecipar para 2023 o abandono do carvão enfrenta alguns riscos. Por um lado, o de que o complexo hidroelétrico da Iberdrola no Tâmega sofra derrapagens, o que não é de excluir, dado que a elétrica espanhola tem um diferendo com o consórcio construtor de uma das barragens, liderado pela Mota-Engil.

Por outro lado, os testes de stress feitos pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) no seu relatório de monitorização da segurança de abastecimento indicam que há riscos de que se a central termoelétrica de Sines fechar antes de 2025 o país possa ter restrições no abastecimento de eletricidade, caso se verifiquem condições extremas no sistema elétrico (como uma seca histórica, que impeça as barragens de contribuir para a segurança do sistema).

Esse relatório, refira-se, conta com alguns pressupostos duvidosos. Conforme o Expresso noticiou, a DGEG assume que em 2030 estará em operação uma nova barragem... que a EDP já descartou.

Ainda assim, o avanço da capacidade de base renovável, nomeadamente os 2 gigawatts (GW) de nova potência solar fotovoltaica previstos pelo Governo para os próximos dois anos, ajudarão a minimizar o risco de incapacidade de resposta do sistema elétrico. Mas não deixará de ser um desafio a saída de operação, já em 2023, da histórica central termoelétrica de Sines, o maior centro eletroprodutor existente hoje em Portugal.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mprado@expresso.impresa.pt

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