Economia

Vinhos, imóveis, lavandarias: após um perdão de dívida milionário, o que resta dos negócios de Paulo Maló?

Paulo Maló
Paulo Maló
António Pedro Ferreira

Da agropecuária aos vinhos, passando pelos congelados, Paulo Maló, agora afastado das clínicas que levam o seu nome, abriu e fechou diversas empresas. Alguns dos negócios a que ficou ligado e que se mantêm ativos somam resultados positivos, outros entraram no vermelho. Há sociedades ainda ativas que não publicam contas há vários anos

Vinhos, imóveis, lavandarias: após um perdão de dívida milionário, o que resta dos negócios de Paulo Maló?

Miguel Prado

Editor de Economia

Nascido em Angola em 1961, formado em Medicina Dentária e apaixonado pela agricultura, Paulo Maló construiu uma marca de referência na medicina dentária, patenteou tecnologia e fez da Malo Clinic uma empresa internacionalizada. Mas afundada em dívidas de quase 70 milhões de euros, a empresa ficou nas mãos do seu maior credor, o Novo Banco, que no verão a vendeu ao fundo de capital de risco Atena Equity Partners. Mas as clínicas que levam o seu nome estão longe de ser o único negócio de Paulo Maló.

É ainda incerto o desfecho dos processos de execução que o Novo Banco e a Caixa Geral de Depósitos lançaram sobre Paulo Maló e o seu património, para tentarem recuperar algo mais do que ficou acordado no processo especial de revitalização (PER) da Maló Clinic. Certo é que nos últimos 20 anos foram muitas as apostas, umas bem sucedidas e outras não, do médico feito empresário. Algumas das empresas a que ficou ligado e que se mantêm ativas somam resultados positivos, outras entraram no vermelho. E há empresas sem contas publicadas há vários anos, o que não permite avaliar a saúde financeira dos negócios por onde Maló passou.

Só o próprio conhecerá com exatidão o seu património. Segundo a informação recolhida pelo Expresso, Paulo Maló é acionista minoritário, com 25%, da empresa de congelados Gelcentro, que no ano passado faturou 21 milhões de euros, lucrou meio milhão e acumula capitais próprios positivos próximos dos 4 milhões. Paulo Maló tem diretamente em seu nome 5,04% da Gelcentro, empresa que é controlada em 50% pela sua irmã Maria Manuela Carvalho.

Outros 25% da Gelcentro são ações próprias e os remanescentes 20% pertencem à Malo Agro Holding, sociedade detida pela Inovative Medical Care. Ao Expresso Paulo Maló confirmou esta terça-feira ser o proprietário da Malo Agro Holding e da Inovative Medical Care. Paulo Maló, recorde-se, deixou de ter quaisquer funções na Malo Clinic, depois de esta ter ficado nas mãos do fundo Atena.

A Malo Agro Holding, criada em 2010, não publica contas desde 2017. Os últimos números, relativos ao ano 2016, apontam um ativo de 1,6 milhões de euros, capital próprio marginalmente positivo (31 mil euros) e um resultado líquido também positivo (43 mil euros). Já a Inovative Medical Care, criada no ano 2001, recebeu em janeiro deste ano um aviso de dissolução, por não publicar contas há vários anos. O último exercício sobre o qual prestou contas foi 2015, quando teve um prejuízo de 8,6 milhões de euros, mantendo, ainda assim, capitais próprios positivos de 20 milhões.

A Malo Agro Holding é ainda acionista maioritária de duas outras sociedades criadas por Paulo Maló, a Malo Wines e a NCD Agroturismo. Se no negócio dos vinhos os últimos números, relativos a 2017, revelam capitais próprios positivos de 766 mil euros, uma faturação anual inferior a um milhão e um resultado líquido de 11 mil euros, na NCD Agroturismo (criada em 2015) as contas de 2017 registavam um prejuízo de 176 mil euros. Embora tivesse então um ativo de 3,75 milhões de euros, a empresa somava um passivo maior e o seu capital próprio era negativo em 103 mil euros.

Fonte ligada aos novos donos da Malo Clinic assegurou ao Expresso que a Atena Equity Partners adquiriu apenas o negócio de medicina dentária, deixando de fora outros negócios de Paulo Maló, como o dos vinhos.

Uma outra sociedade fundada pelo médico dentista e ainda ativa é a PSMC Imobiliária. A empresa, que leva as iniciais do empresário (Paulo Sérgio Maló de Carvalho), foi criada em 1998. Nas últimas contas, relativas ao ano 2016, apresentava vendas anuais superiores a um milhão de euros, um prejuízo de 188 mil euros, mas um capital próprio positivo de 2,3 milhões de euros.

As empresas que Maló abriu e fechou

Ainda antes da expansão internacional das clínicas com o seu nome, Paulo Maló empreendeu uma série de outros negócios que acabaram por fechar. De acordo com o levantamento feito pelo Expresso, a carreira de Paulo Maló incluiu as empresas Podos (comércio de equipamentos para podologia), que abriu em 1999 e fechou em 2006, e As Amarelinhas (sociedade agro-pecuária), que operou entre 2000 e 2011.

Maló também foi sócio da empresa KWP Consultores de Gestão, que lançou em 2000 e fechou em 2006, bem como das sociedades (estas no perímetro da Malo Clinic) Malo Kids (que abriu em 2008 e fechou em 2010) e Malo One Cabeleireiros (que teve igualmente um curto período de vida, entre 2010 e 2012).

Outro capítulo da vida empresarial de Paulo Maló foi a sociedade GP Lavandarias, constituída em 2007 e encerrada em 2013.

Numa das suas últimas intervenções públicas, um conteúdo publicado pelo site Magg em fevereiro deste ano e patrocinado pela Malo Clinic, Paulo Maló assumia o seu distanciamento de Portugal, afirmando que este não é o seu país de eleição.

"Não, nem nunca foi, na verdade eu estou aqui de empréstimo porque sou africano. Eu saí de Angola porque houve uma guerra civil, depois saí da África do Sul porque houve o início de uma guerra civil. Vim para a Europa porque os meus pais queriam estabilidade. Mas estou aqui como peixe fora de água. Eu não sou europeu, não consigo viver com tanto cimento, com tanto alcatrão e com tanta confusão", declarou o empresário.

Maló reclamou direito a receber 2,6 milhões, mas ficou a zero

No processo especial de revitalização (PER) da Maló Clinic o fundador da empresa reclamou créditos de 2,6 milhões de euros relativos a prestação de serviços, segundo a lista de credores publicada no portal Citius no início de setembro.

A verdade é que o administrador de insolvência Bruno Costa Pereira não reconheceu nem um cêntimo como crédito de Paulo Maló, alegando que este não apresentou quaisquer provas.

"Não se viu junta com a reclamação de créditos, como competia, qualquer documentação comprovativa do valor reclamado, sendo que da contabilidade da revitalizanda não resulta a existência de qualquer crédito para com o reclamante", justificou o administrador de insolvência.

O PER da Maló Clinic ditou, conforme noticiou já o "Jornal de Negócios", um perdão de dívida de 40 milhões de euros (a maior parte desse perdão é do Novo Banco), reduzindo a necessidade de reembolsos aos credores para 27 milhões de euros. Nos próximos dois anos a empresa não terá de pagar nada aos credores. Após este período de carência a Maló Clinic reembolsará os credores ao longo de oito anos, com juros.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mprado@expresso.impresa.pt

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