Mario Draghi não desiludiu os mercados. O Banco Central Europeu (BCE) decidiu na reunião desta quinta-feira, a penúltima chefiada pelo italiano, um pacote muito amplo de estímulos, reabrindo o programa de compra de ativos descontinuado em dezembro e agravando para -0,5% a taxa negativa de remuneração dos depósitos dos bancos. Para mitigar o impacto negativo no sector bancário, a taxa negativa será aplicada em dois escalões.
Mário Draghi, que presidiu à sua penúltima reunião, dará explicações mais detalhadas na conferência de imprensa que se iniciará pelas 13h30 (hora portuguesa).
A primeira reação no mercado da dívida foi uma descida das taxas, com os juros das Obrigações do Tesouro português a 10 anos a caírem mais de 40%, de uma abertura esta quinta-feira em 0,284% para 0,15% à hora da publicação do comunicado do BCE.
O programa de compra de ativos, nomeadamente de dívida pública, recomeçará a 1 de novembro - a data em que Christine Lagarde assume a presidência do BCE -, com um volume mensal de €20 mil milhões e não tem data pré-definida para terminar. Durará "pelo tempo que for necessário para reforçar o impacto acomodatício das taxas e terminará pouco depois de que se reinicie a subida das taxas diretoras".
Este programa de aquisições é complementado pelo plano de reinvestimentos das amortizações da carteira do BCE que havia continuado depois da descontinuação das compras líquidas em dezembro. Entre outubro deste ano e agosto de 2020, o BCE prevê reinvestir 179 mil milhões de euros, uma média de €16 mil milhões por mês, que somam às compras líquidas a partir de 1 de novembro.
O BCE decidiu ainda reforçar o poder de fogo deste pacote muito amplo alterando a orientação futura no sentido de que as taxas diretoras se mantenham nos níveis atuais (nomeadamente 0% na taxa de refinanciamento e -0,5% na taxa sobre os depósitos) ou mesmo inferiores até que a perspetiva da inflação dê mostras de convergir "com robustez" no sentido do objetivo próximo mas abaixo de 2%. Esta ideia da necessidade de uma trajetória de convergência "robusta" é pela primeira vez introduzida.
Recorde-se que o BCE lançou o anterior programa de compra de ativos em março de 2015 que duraria, depois de várias extensões, até dezembro do ano passado. Ao longo dos quatro anos comprou 2,65 biliões de euros de ativos, dos quais 1,97 biliões em dívida pública dos estados membros do euro.
O BCE não é o único banco central a aplicar taxas negativas sobre depósitos. O Banco central da Dinamarca aplica uma taxa de -0,65%, o Banco Nacional da Suíça de -0,75%, e o Banco do Japão de -0,1% (mas tem um sistema de escalões). O Banco central da Suécia, o Riksbank, tem uma taxa diretora de -0,25%, e o Banco central da Dinamarca de -0,75%. Recorde-se que a taxa diretora do BCE se mantém em 0%.
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