Economia

Líder do grupo Matos Gil segue Berardo e diz que houve má gestão na CGD

Líder do grupo Matos Gil segue Berardo e diz que houve má gestão na CGD
José Fernandes

A CGD não executou a dívida do grupo quando devia - na altura de transição de poder entre Santos Ferreira e Faria de Oliveira, critica Manuel Matos Gil

Líder do grupo Matos Gil segue Berardo e diz que houve má gestão na CGD

Diogo Cavaleiro

Jornalista

Manuel Matos Gil critica a gestão da Caixa Geral de Depósitos e defende que se perdeu dinheiro com as suas empresas foi por má gestão. “Esteve nas mãos da CGD a recuperação total do financiamento concedido”, afirmou na audição desta terça-feira na comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco público.

O grupo Matos Gil (IMG) entrou no capital da espanhola La Seda de Barcelona em 2003, com 10% (que depois aproximou-se dos 20%), com o seu líder a assegurar que a participação que aí teve “nunca contou com qualquer financiamento da CGD”. Em 2006, o banco torna-se accionista da companhia (com o intuito de trazer um projeto petroquímico idealizado pela La Seda para Sines).

É aí que é celebrado um contrato de financiamento que visa a abertura de crédito de até 115 milhões de euros entre a Selenis (de que a IMG é accionista relevante), a CGD e ainda a sua empresa Caixa Capital.

A garantia pelo empréstimo era um total de 10,9% das ações da La Seda. Logo no final de 2007, as ações deixaram de cobrir o rácio de cobertura de 135%. O banco não chegou a acordo para o reforço das garantias, mas também não exerceu a opção de venda que podia exercer pela existência da “insuficiência” das garantias – quando as ações baixassem abaixo do valor de referência que corresponde aos 135%.

No final de 2007, o presidente da Caixa é Carlos Santos Ferreira, que foi sucedido por Fernando Faria de Oliveira.

“Se naquelas datas e de acordo com as melhores práticas de gestão, a CGD tivesse optado pela venda, teria realizado um encaixe financeiro, respectivamente, de 117 milhões ou de 95,9 milhões, tendo em conta a cotação das ações da época”, comentou Manuel Matos Gil aos deputados.

É por isso que o empresário diz que “esteve nas mãos da CGD a recuperação total do financiamento concedido”. E a execução do penhor só é feita depois do final do financiamento – em 2010. Matos Gil lembra que no final de 2008 saiu da La Seda por divergências com a liderança da empresa.

“Visões inconciliáveis”

Matos Gil lembra que tinha com a administração da CGD, já liderada por Faria de Oliveira, uma oposição em relação ao que fazer na La Seda, onde tinha dúvidas sobre a gestão.

“Tornou-se inesperadamente evidente que a IMG e a administração da CGD tinham visões estratégias inconciliáveis quanto à La Seda e à Artlant, desde logo quanto à necessidade de reformular toda a equipa de gestão e o próprio modelo de governo da empresa”, declarou o empresário, que vive atualmente no México.

E desde a sua saída tem muitas críticas a fazer ao trabalho pela Caixa. A La Seda faliu e, com isso, também Artlant intensificou ainda mais as dificuldades que sempre viveu na sua vida. Daí que Matos Gil não perceba porque a fábrica em Sines não aproveitou a “mais-valia” de a La Seda ter a Oman Oil como accionista, o que permitiria “ter satisfeito as necessidades de abastecimento da fábrica de Sines". A Oman Oil é hoje a segunda maior accionista da portuguesa REN.

A CGD envolveu-se na La Seda de Barcelona como accionista, em 2006, e acabou por ser também sua financiadora. Da mesma forma, esteve desde o início ligada ao projeto Artlant, em Sines, sociedade da indústria petroquímica de que se tornou accionista e credora, e que custou mais de 500 milhões de euros. Só no ano passado conseguiu vender a fábrica, com um encaixe de 28 milhões.

Na sua audição, Joe Berardo, outro devedor da CGD (e ainda do BCP e Novo Banco) também foi sempre deixando críticas aos bancos, acrescentando que foi sua responsabilidade a perda de poder enquanto credores da Associação Coleção Berardo.

Manuel Matos Gil - que diz estar à frente de um grupo que está em seis países europeus e americanos, com mais de 600 trabalhadores e com volume de negócios de 400 milhões – foi mais um dos nomes ligados a grandes devedores da Caixa Geral de Depósitos que estiveram na comissão parlamentar de inquérito, depois da presença de Joe Berardo, Diogo Gaspar Ferreira e o grupo liderado por Manuel Fino.

Esta semana, estarão no Parlamento antigos administradores do banco a explicar as operações que conduziram o banco à necessidade de capitalização, entre eles António Tomás Correia e Celeste Cardona.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: dcavaleiro@expresso.impresa.pt

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