Berardo diz que foi “essencial a todo o sistema financeiro”
O empresário sublinha que foi aceitando dar garantias para cobrir as dívidas das suas empresas, o que impediu o seu incumprimento numa altura perigosa para os bancos
O empresário sublinha que foi aceitando dar garantias para cobrir as dívidas das suas empresas, o que impediu o seu incumprimento numa altura perigosa para os bancos
Jornalista
Joe Berardo considera que ajudou o sistema financeiro ao impedir que as dívidas das empresas que dirigia entrassem em incumprimento, segundo deixou claro na comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos. E isso é a prova que não tem só uma garagem como garantia.
Fizeram crer aos senhores jornalistas que só tinha em meu nome uma garagem no Funchal”, declarou Berardo na sua intervenção inicial, lida pelo seu advogado André Luiz Gomes, sem mencionar a quem se refere. Mas não, sublinha. “Só tenho a garagem? Devolvam o resto das coisas que tenho”, disse o empresário, já em resposta aos deputados.
“Grato ficaria que os bancos aceitassem ficar com essa garagem no Funchal em troca de todos os ativos que lhes fui entregando pessoalmente e de boa fé em garantia das dívidas das instituições (Metalgest e Fundação José Berardo)”, leu André Luiz Gomes.
Entre 2008 e 2014, dando garantias adicionais, teve um papel importante na banca, leu o seu advogado. Aí, embora não tenha referido, estarão incluídos os títulos da Associação José Berardo, que é quem tem acordo com o Estado por conta da exposição da coleção de obras de arte, e que foram dados como garantias de empréstimos aos bancos.
Nesse período, “foi essencial a todo o sistema financeiro nacional que as dívidas das mesmas não entrassem em incumprimento em virtude da situação de colapso dos mercados financeiros e fragilidade do próprio sistema financeiro português entre 2008 e 2014".
Ou seja, Berardo aponta para o facto de ter dados garantias adicionais para que as dívidas das empresas que representa não ter entrado em incumprimento – e não ter dado problemas aos bancos.
Sobre as dívidas que tem perante os bancos, diz estar disponível para chegar a um entendimento.
“Estamos em negociações com bancos e vamos ver se chegamos a conclusão em breve”, disse. "As instituições que represento continuam disponíveis para chegar a acordo com os bancos que salvaguardassem o interesse de todos os 'stakeholders'. Esta é a única solução que permitirá reduzir os prejuízos de todos", continuou o comendador.
A Caixa Geral de Depósitos, o Novo Banco e o Banco Comercial Português, cansados de não chegarem a acordo com Berardo, avançaram para um processo de execução contra Berardo, pedindo 962 milhões de euros. As negociações podem prosseguir ao mesmo tempo.
Na audição, André Luiz Gomes - que não quis filmagens a Berardo, um pedido que não foi respeitado - leu também que a Caixa Geral de Depósitos concedeu empréstimos para a compra de acções do BCP, depois de o próprio banco privado - em que o ex-administrador Filipe Pinhal terá sido um dos interlocutores - ter sugerido que assim fosse. No lado da CGD, foi o diretor José Cabral dos Santos o líder do tema.
Aliás, a compra de ações cotadas foi sempre proposta pelos bancos com que trabalhava (inicialmente BCP e BES, depois Santander e só depois CGD), declarou.
“A tomada de participação no BCP era um investimento altamente atractivo”, justificou, acrescentando que foi a banca que não soube aconselhar os clientes em 2007 e 2008 dos problemas advindos da crise de subprime.
A CGD é que não executou as garantias na altura devido (com a venda dos títulos), quando as ações do BCP se estavam a desvalorizar, o que teve prejuízos para o banco, disse.
Questionado sobre se tinha concedido aval pessoal ao banco público, Berardo foi pouco direto: “nunca dei avales pessoais, que lembre”. “Não me lembro bem, como é que foi isso. Não me lembro”.
Segundo explicou mais à frente, terá havido um pedido de aval em 2006, a uma das suas empresas, seguido de outro no ano seguinte, ambos rejeitados. Mas no ano seguinte surge um aval pessoal, segundo referido pela auditora EY, que escrutinou a CGD, não foi encontrado.
(notícia atualizada às 16:30 com mais informações)
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