Governador recusa conflito de interesses com férias em Vale do Lobo

O governador diz que não esteve na aprovação final do conselho alargado de crédito do empréstimo a Vale do Lobo, que causou perdas de superiores a 220 milhões de euros
O governador diz que não esteve na aprovação final do conselho alargado de crédito do empréstimo a Vale do Lobo, que causou perdas de superiores a 220 milhões de euros
Jornalista
Carlos Costa recusa um conflito de interesses por ter passado férias no empreendimento de Vale do Lobo, que foi aprovado na CGD enquanto era administrador do banco. Contudo, o atual governador do Banco de Portugal diz não ter estado na decisão final relativa ao crédito.
“O governador entende que não existe qualquer conflito de interesses nesta decisão, dado que, como resulta da auditoria da EY à CGD, o financiamento da CGD a Vale do Lobo teve a aprovação final numa reunião do conselho alargado de crédito que não contou com a presença do Sr. governador”, indica o esclarecimento do Banco de Portugal emitido esta sexta-feira, 15 de fevereiro, o mesmo dia em que o Jornal Económico noticiou que Carlos Costa passou férias no empreendimento.
Em relação a Vale do Lobo, o banco público então presidido por Carlos Santos Ferreira, numa equipa de administração da qual Carlos Costa fazia parte, aprovou o empréstimo inicial de 194 milhões ao empreendimento, no âmbito do qual também ficou como seu acionista, com uma parcela de 25% do capital. Carlos Costa refere a ausência da sua palavra na "aprovação final numa reunião do conselho alargado de crédito", ainda que o empréstimo tenha de ter passado por outros órgãos decisórios e também noutros encontros do mesmo órgão.
O Jornal Económico escreve que o governador passou férias no empreendimento turístico por dois anos, através do arrendamento de uma casa. “Em 2013 e 2014, sete e oito anos respetivamente depois de ter cessado funções de administrador CGD, o governador passou férias no empreendimento de Vale de Lobo (6 a 16 de agosto de 2013 e 9 a 16 de agosto de 2014), tendo pago pelos arrendamentos os valores praticados pela empresa em cada ano, não tendo beneficiado de qualquer desconto. O arrendamento foi tratado com os serviços comerciais do empreendimento de Vale do Lobo”, indica o esclarecimento. Diogo Gaspar Ferreira, que presidia a Vale do Lobo (e era sócio da CGD naquele complexo turístico), tinha referido àquela publicação que não tinha havido qualquer desconto aplicada ao atual líder do supervisor da banca.
Tal como tem dito até aqui, o governador "está totalmente disponível, como sempre esteve, para prestar todos os esclarecimentos que a Assembleia da República entender necessários, designadamente sobre os termos da sua participação nos órgãos colegiais que aprovaram as operações que são objeto da auditoria da EY à CGD".
A comissão parlamentar de inquérito à Caixa Geral de Depósitos foi aprovada esta sexta-feira pelos deputados. Carlos Costa terá de prestar esclarecimentos aos deputados, sabendo-se que todos eles têm críticas ao seu trabalho. Aliás, o Bloco de Esquerda já pediu formalmente à Assembleia da República que peça ao Governo para proceder à sua exoneração de funções. O que não recebeu apoio maioritário. Os partidos querem esperar pelas conclusões da iniciativa parlamentar para tomar uma decisão sobre o assunto.
Este foi o terceiro esclarecimento do governador do Banco de Portugal no espaço de uma semana devido ao seu percurso na Caixa Geral de Depósitos, onde foi administrador entre 2004 e 2006.
(Notícia atualizada às 13:20 com mais informações)
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