Há um facto perene no código genético da Mostra Internazionale d’Arte Cinematografica: os aspectos sociais da existência, os testemunhos sobre a realidade do tempo em que se fazem os filmes, nunca faltam. Desta feita ampararam-se num mesmo dia, juntando o francês “A pied d'oeuvre”, de Valérie Donzelli, e o sul-coreano “No Other Choice” de Park Chan-wook. O primeiro, história de um homem que abandonou tudo pelo impulso de se tornar escritor, sobrevivendo de trabalhos indiferenciados sujeitos à regra do mais baixo preço que o algoritmo das plataformas de serviços privilegia, é um olhar sobre lugares de pobreza que emergiram no admirável mundo novo digital das nossas sociedades ocidentais. O segundo segue um alto quadro empresarial que, posto no desemprego, os meses a passar sem encontrar colocação e toda a vida a começar a desfazer-se, resolve eliminar fisicamente a direta concorrência. O assassínio em série como modo de controlar a oferta de trabalhadores especialmente qualificados, portanto.
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