Os estúdios de televisão e cinema são “nojentos” e estão “do lado errado da História”, atirou esta madrugada Fran Drescher, naquele que foi o discurso que marcou o início da greve dos atores de Hollywood. A presidente da SAG-AFTRA, o sindicato que representa mais de 160 mil atores e apresentadores de cinema, televisão e rádio, foi violenta nas suas palavras e não está disposta a virar costas à luta laboral.
Esse foi mesmo o gancho do discurso, em que Drescher, conhecida pelo seu papel na série “The Nanny”, comparou a luta dos atores às dos trabalhadores de outros sectores económicos que exigem melhores condições de trabalho e salariais para combater a inflação e a precariedade um pouco por todos os EUA e a Europa.
“O que está a acontecer aqui é importante, porque o que está a acontecer-nos está a acontecer em todos os sectores do trabalho, quando os empregadores privilegiam Wall Street e a ganância e se esquecem das peças essenciais que fazem a máquina funcionar”, disse Drescher.
A sindicalista acusou os estúdios envolvidos nas negociações - entre eles a Disney e a Warner Bros. Discovery, assim como gigantes do streaming como a Netflix - de desrespeitarem os atores, que estão preocupados com a utilização de imagens geradas por inteligência artificial e com a gestão dos direitos de voz e reivindicam a melhoria das suas condições salariais e laborais.
“Não posso acreditar, muito francamente, na distância que nos separa em tantos pontos. Eles alegam ser pobres, que estão a perder dinheiro a torto e a direito, enquanto dão centenas de milhões de dólares aos seus executivos. É nojento. Que tenham vergonha. Estão do lado errado da História", apontou Drescher. "Até certo ponto, não podemos continuar a ser desrespeitados e marginalizados", acrescentou.
A greve começou oficialmente esta sexta-feira às 7h00 (horário de Lisboa) e irá condicionar de forma severa a produção cinematográfica e televisiva dos EUA. Acresce que os argumentistas de Hollywood também estão em greve desde maio, reivindicando melhores salários e condições laborais. Esta é a primeira vez desde 1960 que tanto atores como argumentistas estão em greve ao mesmo tempo.
A sessão de apresentação do filme “Oppenheimer”, um dos mais esperados deste verão, teve de ser adiada uma hora, de modo a não coincidir com o começo da paralisação, já que o sindicato proíbe os atores de promoverem os projetos em que estão envolvidos, incluindo nas redes sociais. A próxima cerimónia dos Emmy Awards, o equivalente na televisão aos Óscares do cinema, marcada para 18 de setembro, está também ameaçada.
É difícil prever por quanto tempo o movimento pode durar. Os atores não fazem greve desde 1980. A última greve dos argumentistas, que data de 2007-2008, durou 100 dias e custou ao sector dois mil milhões de dólares.
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