Quem aprecia filmes de tribunal e discursos contraditórios como os do recente “Saint Omer”, ainda em exibição, não pode perder “Le Procès Goldman” e a sua corda bamba de incertezas. O novo filme de Cédric Kahn abriu a Quinzena dos Cineastas e é sublime. Trata exemplarmente de um caso que fez correr muita tinta há cinquenta anos e que retratou com acerto a ressaca política e ideológica da França do pós-Maio de 68, quando ruíram os sonhos.
Pierre Goldman (1944-1979) foi um judeu polaco nascido em França e filho de um herói da Resistência que militou em grupos revolucionários da extrema-esquerda. Andou pela luta armada na América do Sul e era um escritor notável. A autobiografia que escreveu na cadeia - “Souvenirs obscurs d'un juif polonais né en France” - contou com o apoio de Sartre e Simone de Beauvoir. Tinha por amigo o filósofo Régis Debray. Goldman foi condenado a prisão perpétua em 1974 pela morte de duas pessoas no assalto a uma farmácia, cinco anos antes. Era um habitué de farmácias. Os roubos financiavam a sua atividade ilícita e ele nunca os negou. Mas negou sempre, com objetividade e contundência, aqueles crimes de sangue e uma acusação baseada em falsos testemunhos. Conseguiria provar a sua inocência e ser ilibado em 1976. Três anos depois seria assassinado por movimentos de extrema-direita.
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