Criadora prolífica que sempre procurou os pontos de contacto – ou de interferência e contaminação mútua — entre a poesia e as artes visuais, Ana Hatherly (1929-2015) iniciou, ainda na década de 60, um projeto central na sua obra, a que deu o nome de “Tisanas”. Tratava-se de um conjunto de textos que exploravam a natureza e estrutura das narrativas, funcionando como ‘infusões’ de linguagem, cujo fim último era questionar radicalmente os limites da realidade. Ao longo de quase quatro décadas, este work in progress foi crescendo: as “39 Tisanas” iniciais passaram a 63 (1973), depois a 222 (1988), a 351 (1997) e a 463 na versão final e definitiva que se publica agora. O objetivo era atingir as 500, número redondo, mas ter ficado aquém acaba por fazer sentido, porque tudo nestas prosas inclassificáveis remete para uma “poética do inacabado”, nas palavras da editora, Ana Marques Gastão, num iluminador posfácio em que também explica como estes textos nascem de uma “dissecação do insuportável, do mais escuro em nós, e criam um espaço poético onde o pensamento, no seu modo de narrar, expor, interrogar, brota como forma de estremecimento”.
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