
Em “A Hora dos Lobos”, Harald Jähner disseca o decénio 1945-55, o complexo pós-guerra numa Alemanha que se reconstruía a partir dos destroços e determinou a configuração posterior do país
Em “A Hora dos Lobos”, Harald Jähner disseca o decénio 1945-55, o complexo pós-guerra numa Alemanha que se reconstruía a partir dos destroços e determinou a configuração posterior do país
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A reflexão exige tempo. Passaram quase 80 anos até que a década que se seguiu à capitulação dos alemães fosse objeto de uma análise como a que faz o jornalista e escritor alemão Harald Jähner. “A Hora dos Lobos — A Vida dos Alemães no Rescaldo do III Reich” versa em profundidade o decénio 1945-1955, provavelmente os mais complexos anos vividos pelos cidadãos deste país que, a partir dali, fez de fronteira entre duas ideologias políticas e representações do mundo antitéticas sintetizando a bipolaridade herdada da II Guerra Mundial.
Num mundo em que a rádio ainda imperava e no qual as imagens filmadas ainda exigiam dispositivos de projeção a quem nem todos facilmente acediam, o anúncio do fim da guerra, a 8 de maio de 1945, ficou para a História como uma enorme festa de rua. Para a maioria dos alemães, como leituras mais recentes deste período atestam, a data não trouxe alegria. Perante a ausência de Estado, um sítio onde não havia responsáveis pelas decisões, com a produção destruída num território atravessado por milhares de refugiados e de recolocados era mais visível a ameaça da fome e da escassez. A dificuldade em olhar de frente os 12 anos (nacional-socialismo) mais destrutivos da História alemã convidava a inventar uma forma de metabolizar a responsabilidade, a culpa. Muitos alemães preferiram ver-se como vítimas das elites nazis, ocultando com o silêncio a dimensão das verdadeiras vítimas.
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