Ana já não diz “cala-te” a Zé em “Os Cinco” de Enid Blyton.
Miss Marple deixou de encontrar “nativos”. Para a protagonista de Agatha Christie, agora são “locais”.
Em “Charlie e a Fábrica de Chocolate”, de Roald Dahl, os Oompa-Loompas deixam de ser “pequenos homens” para ser “pequenas pessoas”. A obra do mesmo autor é totalmente expurgada do adjetivo “preto” (mesmo quando em referência aos terríveis tratores de “O Fantástico Senhor Raposo”) e os “pais” e “mães” passam a ser referidos como “família”. Em “As Bruxas”, de Roald Dahl, à revelação de que estas personagens são carecas, é acrescentada uma nova passagem: “Há muitas outras razões pelas quais as mulheres podem usar perucas e certamente não há nada de errado com isso."
As editoras anglo-saxónicas estão a revisitar os clássicos e nas novas edições há uma lista cada vez maior de palavras proibidas. Castanho, gordo, feio, nojento, judeu, cigano, queer e gay (estas últimas como expressões que caíram em desuso no inglês para referir respetivamente “estranho” e “descontraído”) são tudo termos que deixaram de ter lugar nas páginas destas obras.
O objetivo, explicam as editoras e fundações detentoras dos direitos de autor, é adequar os clássicos às “sensibilidades modernas”, saneando-os de todas as passagens com potencial para ofender. O sentimento vai tão longe que há mesmo livros a serem fisicamente escondidos.
Recentemente, as bibliotecas públicas de Devon, no Reino Unido, chegaram às notícias por todo o mundo depois de terem anunciado que as versões não revistas dos livros de Enid Blyton vão passar a estar numa área restrita. O leitor vai ter de pedir a um funcionário, que só entregará o livro depois de fazer um aviso verbal sobre a linguagem.
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