Cultura

Morreu Manuel Cargaleiro, aos 97 anos. Presidente destaca um artista que “nunca deixou o cosmopolitismo significar desenraizamento"

Morreu Manuel Cargaleiro, aos 97 anos. Presidente destaca um artista que “nunca deixou o cosmopolitismo significar desenraizamento"
NUNO BOTELHO

O anúncio foi feito pelo Presidente da República numa nota de pesar “pela morte de Mestre Cargaleiro”. Na despedida, Marcelo lembra o último encontro com o artista, há semanas, em Lisboa, destacando o ceramista e pintor, “mas também desenhador, gravador e escultor” que deixa “a sua assinatura em igrejas, jardins ou estações de metro, e em inúmeras peças”

Morreu este domingo, 30 de junho, o pintor e ceramista português Manuel Cargaleiro. Tinha 97 anos. A notícia foi dada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, através de uma nota publicada no site da Presidência da República. “O Presidente da República manifesta o seu pesar pela morte de Mestre Cargaleiro, que hoje nos deixou”, lê-se na nota.

Lembrando que o Mestre Cargaleiro viveu grande parte da sua vida em Paris, França, desde 1957, o chefe de Estado destaca que, assunta assim, “Cargaleiro nunca deixou que o cosmopolitismo significasse desenraizamento” e a prova disso “é a memória das imagens e das cores da Beira Baixa na sua obra, nomeadamente a lembrança das mantas de retalhos” e a “igualmente a empenhada presença do artista na região onde nasceu, através da Fundação e do Museu Cargaleiro”.

“Ceramista e pintor, mas também desenhador, gravador e escultor, Mestre Cargaleiro deixou a sua assinatura em igrejas, jardins ou estações de metro, e em inúmeras peças tão geométricas e cromáticas como as de outros artistas cosmopolitas que viveram em Portugal. Por isso, tendo estado fora décadas, continuou a sentir-se, e continuámos a senti-lo, um artista português”, acrescenta Marcelo Rebelo de Sousa.

“De Cargaleiro disse Maria Helena Vieira da Silva que possuía a técnica perfeita, a medida certa, as cores raras; e disse Álvaro Siza Vieira que evidenciava uma alegria invulgar no panorama artístico português”, lembra o Presidente que, recorda também, o condecorou em 2017 com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e, em 2023, com a Grã-Cruz da Ordem de Camões.

A terminar a nota, o Presidente da República afirma que “nunca esquecerá o último encontro com Mestre Cargaleiro, semanas atrás, na casa deste em Lisboa, em que continuava a sonhar projetos para o futuro e a acreditar na Vida, sempre prestigiando Portugal”.

A obra de Cargaleiro foi fortemente inspirada no azulejo tradicional português. Em 1949, ingressou na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e participou na Primeira Exposição Anual de Cerâmica, no Palácio Foz, em Lisboa, onde realizou a sua primeira exposição individual de cerâmica, no ano de 1952.

No início de carreira, ainda na década de 1950, recebeu o Prémio Nacional de Cerâmica Sebastião de Almeida, e o diploma de honra da Academia Internacional de Cerâmica, no Festival Internacional de Cerâmica de Cannes, em França, numa altura em que iniciara funções de professor de Cerâmica na Escola de Artes Decorativas António Arroio e apresentara as suas primeiras pinturas a óleo no Primeiro Salão de Arte Abstrata.

Nas décadas de 1960 e 1970, participou em exposições individuais e coletivas e durante este período afirmou-se não apenas como conceituado ceramista, mas também como desenhador e pintor. Nos anos 1980 começou a explorar a tapeçaria.

A partir da década de 90, predominariam na sua obra os padrões aglomerados e cromaticamente intensos onde continuaria a ser evocado o azulejo português.

Em Castelo Branco, viria a ser inaugurada a Fundação Manuel Cargaleiro, em 1990, depois expandida com o respetivo museu e mais tarde, no Seixal (Setúbal), a Oficina de Artes Manuel Cargaleiro.

O ceramista recebeu, em Paris, em 2019, a medalha de Mérito Cultural do Governo português e a Medalha Grand Vermeil, a mais alta condecoração da capital francesa, onde viveu grande parte da sua vida.

Na altura, foi também inaugurada a ampliação da estação de metro de Champs Elysées-Clémenceau, com novas obras de Manuel Cargaleiro, depois de originalmente concebida e totalmente decorada pelo artista português, em 1995, incluindo o painel em azulejo "Paris-Lisbonne".

Ministra da Cultura expressa pesar pela morte

A ministra da Cultura expressou "profundo pesar" pela morte do pintor e ceramista Manuel Cargaleiro, cuja "intensa atividade artística se traduz num legado essencial para a arte portuguesa".

"Manuel Cargaleiro deixa um legado ímpar, cruzando referências e gerações", diz a nota de pesar de Dalila Rodrigues, assinalando que Cargaleiro, nascido em Chão das Servas, Vila Velha de Ródão, criou a fundação com o seu nome em Castelo Branco, cujo Museu mostra a sua obra, incluindo a extensa coleção de cerâmica.

"Representado em coleções nacionais, entre elas a Coleção de Arte Contemporânea do Estado, e internacionais, o seu trabalho foi reconhecido e homenageado, tendo sido condecorado como Comendador da Ordem Militar de Santiago da Espada de Portugal (1983), Grau de Officier des Arts et des Lettres, atribuído pelo governo francês, em 1984, Grã-Cruz da Ordem do Mérito (1989), Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2017), Medalha de Mérito Cultural (2019), Medalha Grand Vermeil (2019), Grã-Cruz da Ordem de Camões (2023)", lembra ainda a ministra da Cultura.

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