No Batalha, o cinema é uma arma contra o racismo

A décima edição da Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista conta com uma seleção de 16 filmes, exibidos entre esta sexta-feira e domingo no Batalha Centro de Cinema
A décima edição da Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista conta com uma seleção de 16 filmes, exibidos entre esta sexta-feira e domingo no Batalha Centro de Cinema
Jornalista
A Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista (MICAR), organizada pela associação SOS Racismo, volta a atracar no Porto entre esta sexta-feira e domingo. O evento, realizado desde 2014, muda-se nesta décima edição do Rivoli para o Cinema Batalha, onde o poder da sétima arte terá na mira questões como racismo, colonialismo e migração. A programação conta com uma seleção de 16 filmes e todas as sessões são gratuitas.
“O tema central deste ano é ‘Memória contra o Colonialismo – do silêncio à reparação’, que destaca a necessidade urgente de enfrentar o passado colonial e as suas repercussões no presente”, refere a organização em comunicado. O evento, destaca a SOS Racismo, tem como missão “reconvocar um processo de descolonização de mentalidades que se mantém inacabado e crucial”.
Assim, acrescenta a organização da MICAR, a décima edição “traz à tela uma seleção de filmes e documentários que iluminam os testemunhos e vozes da guerra colonial que têm permanecido esquecidas, bem como as histórias silenciadas pela violência colonial”.
A sessão de abertura, marcada para as 21h15 desta sexta-feira, contará com a exibição do filme “Monangambée”, um filme de Sarah Maldoror que expõe a brutalidade do regime colonial português. Segue-se a apresentação de “Sambizanga” (1968), a primeira longa-metragem da mesma cineasta que se foca no drama de Maria, mulher do ativista revolucionário angolano Domingos Xavier, que parte para Luanda à procura do marido sem nunca obter uma resposta, primeiro, sobre o seu paradeiro e, depois, sobre a sua morte.
No sábado, pelas 17h15, a tela do Batalha mostra o “Tarrafal - Memórias do Campo da Morte Lenta”, um documentário onde Diana Andringa apresenta uma recolha das memórias de prisioneiros sobreviventes do campo de concentração em Cabo Verde. Às 19h15 há dose dupla com “Sonhos de uma Revolução” (2023), um filme do documentarista Pedro Neves gravado em Moçambique, e “Uma Memória em Três Atos” (2016), de Inaldeso Cossa.
A noite de sábado tem ainda em cartaz “Mueda, Memória e Massacre” (1979), de Ruy Guerra, exibido às 21h15. “A 16 de junho de 1960, em Mueda, Moçambique, o exército português executou 600 habitantes por ordem do governador português. Desde a independência do país, os residentes de Mueda revivem o acontecimento anualmente, numa encenação teatral, desempenhando os papéis de carrascos, vítimas e espectadores”, lê-se na sinopse do filme.
A Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista termina no domingo, com destaque para a sessão de encerramento, marcada para as 21h15 com a projeção de “Prism”, um trabalho colaborativo realizado por três cineastas, An van Dienderen, Éléonore Yaméogo e Rosine Mbakam. O filme explora o legado racista na tecnologia fotográfica e cinematográfica.
Nem só de filmes se faz a décima edição da MICAR e, até 12 de novembro, estará também patente no Batalha Centro de Cinema a exposição “Resistência Visual Generalizada - Livros de Fotografia e movimentos de libertação”, comissariada por Catarina Boieiro e Raquel Schefer. A exposição, avança a organização, mostra ao público “publicações raras que documentam processos de descolonização desde o início da luta armada até aos primeiros anos de independência, ao mesmo tempo que se afirmam como gestos radicais de descolonização da cultura e da imagem, entre militarismo e experimentação formal”.
Para o SOS Racismo, a MICAR 2023 é também uma “oportunidade para refletir sobre os 50 anos do 25 de Abril, celebrando a conquista da autodeterminação pelos estados africanos”. Além disso, “este marco histórico é uma chamada à ação para ultrapassar o silenciamento da guerra colonial, que permanece como uma das mais evidentes e intensas feridas abertas na história do país”.
A programação da Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista pode ser consultada na íntegra AQUI.
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