Em maio, saía o livro “Aparas dos Dias”, pela Companhia das Ilhas. Era seu. E era uma compilação de ensaios diversos, sobretudo, uma reflexão sobre o que é um ensaio. João Barrento acabou de ganhar o Prémio Camões, a mais importante distinção da língua portuguesa, o mesmo que, em anos anteriores, foi atribuído ao brasileiro Silviano Santiago e à moçambicana Paulina Chiziane. E que também Chico Buarque, Raduan Nassar, Luandino Vieira ou Germano Almeida receberam.
João Barrento junta-se a esta galeria - da qual fazem parte os também portugueses Miguel Torga, Hélia Correia e António Lobo Antunes, só para nomear alguns - na 35ª edição do prémio, não enquanto romancista, como a maioria dos seus pares, mas como ensaísta, cronista e tradutor. Como o homem cujas traduções de literatura e filosofia alemã permanecem como referências incontornáveis: recentemente, a integral da obra poética de Hölderlin (Assírio Alvim), antes Goethe, Paul Celan, Robert Musil, Christa Wolf, Thomas Bernhard, Georg Trakl, Peter Händke, Heiner Müller.
Entre os seus ensaios, destacam-se “Walter Benjamin - A Sobrevida das Ideias” (Edições do Saguão), “Breviário do Silêncio” sobre Maria Gabriela Llansol, Rui Chafes e Fernando Echevarría, entre outros (Edições Alambique), “Goethe, Eterno Amador” (Bertrand) e “Outros Tons de Azul - Poesia Política Alemã do Século XX” (Outro Modo).
Nascido em Alter do Chão a 26 de abril de 1940, formou-se em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A sua dissertação sobre o dramaturgo Harold Pinter - Nobel da Literatura em 2005 - foi publicada em 1964 sob o título “Entre a Palavra e o Gesto - Interpretação do Teatro de Harold Pinter”. Leitor de português na Universidade e Hamburgo entre 1965 a 1968, foi, a partir de 1986 e até se reformar em 2002, professor de literatura alemã e comparada da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
João Barrento especializou-se na obra de Maria Gabriela Llansol, sendo autor, por exemplo, de “Na Dobra do Mundo - Escritos Llansolianos”, além de responsável pelo espólio da escritora falecida em 2008. Largamente premiado, a sua obra recebeu o Prémio de Ensaio Eduardo Prado Coelho, o Grande Prémio de Crónica da APE, o Prémio de Tradução do Ministério da Cultura da Áustria, entre outros, tendo igualmente sido agraciado com a Cruz de Mérito Alemã e a Medalha Goethe.
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