Simone regressou a Portugal com álbum "Da gente"

Simone de Oliveira, ou simplesmente Simone, mas do Brasil, atuou três vezes em Portugal, para promover o seu mais recente álbum, “Da gente”, numa altura em que também celebra 50 anos de carreira
Simone de Oliveira, ou simplesmente Simone, mas do Brasil, atuou três vezes em Portugal, para promover o seu mais recente álbum, “Da gente”, numa altura em que também celebra 50 anos de carreira
Jornalista
Após um hiato de nove anos, eis que Simone ressurge com um novo trabalho discográfico, um pouco diferente do que era habitual, e volta a esgotar os espaços em que se apresentou, com a mesma garra de sempre, para gáudio dos admiradores da cantora, dona de uma das mais imponentes vozes da música Popular brasileira.
Em entrevista ao Expresso, Simone reconheceu não ter sido fácil ultrapassar o período da pandemia, mas diz que “a música continua a ser a maior terapia de todas”. Este novo disco, "adiado desde 2015 devido a vários compromissos, acabou por ser gravado em apenas dez dias, é uma homenagem ao povo nordestino", que Simone adora e diz ser "maravilhoso”.
“Este meu álbum também conta com a participação do poeta português Tiago Gomes da Silva e com a contribuição de outros compositores do Nordeste, que são conhecidos regionalmente mas não tanto a nível nacional e são maravilhosos, além de músicos e letristas que vale a pena descobrir!".
Simone diz tratar-se de “um trabalho novo, com uma nova visão", sobretudo por ter inúmeras músicas que não sabia “como cantar no tom mais adequado”.
No Salão Preto e Prata do Casino Estoril, Simone levou uma vez mais o público ao rubro, com a voz sem idade, de branco da cabeça aos pés e com o coração quente que a caracteriza.
Sempre vestida de branco é, mais do que uma tradição ou superstição, uma homenagem que "faz ao Mestre”, e assim irrompe sempre de mansinho no palco como um raio de luz que pretende transmitir pureza espiritual, paz e uma ascensão ao divino que quer partilhar com o público, que abraça com a voz.
Já repetente no país, onde começou a atuar há quase quarenta anos, a artista diz que adora Portugal, onde já tem inúmeros amigos, feitos ao longo do tempo.
Foi a caminho de Fátima, na estrada, que Simone soube da inesperada morte de Gal Costa. Por isso, no final do concerto deste domingo no Casino Estoril, partilhou no palco um gigante pano branco com GAL escrito a azul, em jeito de homenagem, num momento que levou a que centenas aplaudissem de pé, durante alguns minutos, o inquestionável e reconhecido talento de ambas.
“O Brasil está triste…a gente está enfrentando uma batalha difícil, em várias frentes, e está sendo muito duro. Todos nós, perdemos uma pessoa muito muito especial, não quero falar disso, quando conheci a Gal eu tinha apenas n16 anos, éramos Amigas…”
Simone foi a sétima de nove filhos de um cantor de ópera amador e de uma mulher que adorava tocar piano e viola; por ter nascido no Bairro de Brotas, em Salvador da Bahia, em 1949, no dia de Natal, esteve quase para se chamar Natalina, mas o nome Simone venceu. Simone Bittencourt de Oliveira ainda brilhou como jogadora de basquete, antes de ser professora de educação física, muito antes de começar a ser conhecida como intérprete, assim que começou a subir aos palcos, em 1973.
Gostou sempre de ousar e de arriscar, quando por exemplo foi pioneira na abordagem da independência feminina, ou quando em “Tô Voltando” conta a história de um casal apaixonado associando o tema à ditadura militar e aos que regressavam ao Brasil, depois do asilo politico nos anos 70.
Salvo alguns momentos pontuais menos felizes, quase sempre bateu recordes de público, que sempre surpreendeu. Recorde-se que nos anos 80 levou para o palco uma cama, muito antes de Madonna chocar o mundo com a mesmíssima ideia.
Ao fim de 50 anos de carreira Simone diz que o balanço não podia ser mais positivo: “ Acertei muito na minha vida! Entre acertos e não acertos, alguns alguns desacertos, a balança pende mais para os acertos, eu acertei. E agora, quase a fazer 73 anos, não me imagino a fazer outra coisa se não cantar.”
Nunca se casou nem teve filhos. Lésbica assumida, diz que chegou a sofrer de bullying quando aos 12 anos já media 1,80m. Ainda namoriscou com Ney Matogrosso mas a música é, sem dúvida a sua maior paixão.
Neste regresso a Portugal, no final do espectáculo em que, como é seu hábito, voltou a distribuir flores brancas entre o público encantado, ficou provado que “a Cigarra” não tem idade, mantém a sedução na voz e está mais desperta do que nunca.
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