Cultura

Cerca de 150 cartas recebidas por Gabriel García Márquez encontradas pela família numa caixa

Gabriel Garcia Márquez
Gabriel Garcia Márquez
Paco Junquera/Getty Images

Pablo Neruda, Bill Clinton, Enrique Peña Nieto, Robert Redford, Woody Allen, Fidel Castro, Simon Peres e Kofi Annan foram algumas das personalidades que escreveram missivas ao escritor colombiano e Nobel da Literatura. Entre 35 e 40 cartas podem agora ser vistas numa exposição na casa onde o escritor viveu na Cidade do México

Quase nunca escrevia cartas, mas recebeu muita correspondência de personalidades como o o poeta e diplomata Pablo Neruda, o ex-Presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, o antigo Presidente do México Enrique Peña Nieto, o ator Robert Redford e o realizador Woody Allen, ambos norte-americanos, e o antigo Presidente cubano Fidel Castro, entre outros.

Foi esta a descoberta dos familiares do escritor colombiano Gabriel García Márquez – ou Gabo, como é chamado afetuosamente na América Latina – que, ao abrirem uma pequena caixa de plástico com a legenda “Netos”, guardada num móvel com outras caixas, foram surpreendidos com 150 cartas inéditas. Procuravam apenas uma fotografia para utilizar na comemoração do 40º aniversário do Prémio Nobel da Literatura, que García Márquez recebeu em 1982 e que o consagrou como um dos escritores mais importantes da América Latina e do mundo, segundo relata este sábado o jornal espanhol “El País”.

As cartas – conservadas dentro de micas de plástico, tal como as tinha guardado a mulher do escritor, Mercedes Barcha, que morreu em 2020 – estão agora, um mês depois do achado, na casa do escritor na Cidade do México e podem ser vistas na exposição “Gabo 40 anos depois do Nobel: O escritor, sim, tem quem lhe escreva” (uma alusão à sua obra de 1961 “Ninguém Escreve ao Coronel”). Não todas, mas as 35 ou 40 “mais interessantes”, “aquelas em que se podia ler a relação de amizade entre Gabo e outra pessoa”, explica ao jornal espanhol a neta do escritor, Emilia García Elizondo, também diretora da Casa da Literatura Gabriel García Márquez, que recebe esta exposição até meados de agosto.

Poucos anos depois de García Márquez ter recebido o Nobel da Literatura, o ator Robert Redford escrevia-lhe uma carta, datada de 1988, na altura em que o escritor colombiano tinha acabado de completar 61 anos. “Estás numa idade em que provavelmente não queres que recordem a tua idade, mas se jogas bem as tuas cartas, podes viver para sempre”, escrevia. “Por isso, parabéns.” Também os antigos Presidente e primeira-dama dos Estados Unidos, Bill e Hillary Clinton, os ex-Presidentes mexicanos Ernesto Zedillo e Enrique Peña Nieto, o escritor e diplomata mexicano Carlos Fuentes e o rei Juan Carlos, de Espanha, lhe desejavam felicidades.

Em datas distintas, o revolucionário e Presidente de Cuba, Fidel Castro, recorda uma entrevista de 15 horas que teve com um jornalista italiano, que “diz ser” amigo de Gabo; o ex-primeiro ministro de Israel, Simon Peres, agradece-lhe um pequeno-almoço “tão caloroso e refrescante” e envia-lhe três livros; e Kofi Annan, ex-secretário-geral das Nações Unidas, agradece-lhe em 2004 por partilhar “pensamentos tão sinceros e interessantes sobre a situação na Colômbia”.

Já depois de 1999 muitas missivas estão relacionadas com o seu estado de saúde, uma vez que é nessa altura que lhe é diagnosticado um cancro linfático. Entre elas, está a carta do fotógrafo norte-americano Richard Avedon que lhe pede para voltar a fotografá-lo – algo que Gabo acabaria por conceder em 2004, poucas semanas antes de morrer –, uma vez que a fotografia que tinha tirado anos antes tinha sido “um fracasso” que o perseguia, nas palavras de Avedon.

Ainda assim, a maioria dessas cartas provavelmente não tiveram resposta por escrito. “Gabo quase nunca escrevia cartas, gostava de ter conversas ao vivo, falava muito por telefone”, realça a neta à agência noticiosa EFE. “Creio que a maioria destas cartas provavelmente foram respondidas em conversas telefónicas ou pessoalmente. Há muito poucas cartas de Gabo.”

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