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Devaneios de polígrafo. A ironia e a inteligência de Julio Cortázar

Julio Cortázar explorou como ninguém, na ficção do século XX, a forma como a estranheza e o absurdo emergem das vidas quotidianas
Julio Cortázar explorou como ninguém, na ficção do século XX, a forma como a estranheza e o absurdo emergem das vidas quotidianas
Andersen/Getty Images

Até agora inédito em Portugal, “Um Certo Lucas”, de 1979, traz-nos todo sentido lúdico e a exploração dos limites da literatura que esperamos de Julio Cortázar

Num texto em que aborda a suposta “indolência” de Samuel Johnson, para a desmentir enfaticamente, ou não tivesse o sábio setecentista criado “praticamente sozinho” o primeiro grande dicionário da língua inglesa, Julio Cortázar confessa a “grande simpatia” que sente pelos polígrafos. Isto é, pelos escritores que “lançam o isco em todas as direções” e abordam os mais variados assuntos — precisamente o que o próprio admite estar a “fazer neste livro”.

E o que é este livro, ao certo? Apetece responder: um desassombrado exercício de liberdade. Cortázar, o polígrafo selvagem, reuniu textos brevíssimos, ficções arrancadas ao real ou à nostalgia, engenhosas brincadeiras literárias — e organizou o material heteróclito em três blocos. No primeiro e no terceiro acompanhamos as andanças e reflexões de um protagonista tão singular quanto esquivo, o “certo Lucas” do título, mais do que evidente alter ego do autor de “Rayuela”. Logo na primeira prosa, ele exibe várias cabeças, como a Hidra, que é como quem diz várias formas de pensar, de sentir, de olhar para as coisas do mundo.

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