Fala como escreve. Com a sintaxe viva de imagens e derivações. Não há frase que não tenha peso, textura, cor, densidade. Ou humor puro e leve. Recebeu-nos no seu gabinete da Fundação Calouste Gulbenkian para meia hora de conversa, que triplicou apesar do cansaço, porque o professor gosta de contar, gosta de pensar. E de pensar no que pensa. Desta vez havia um livro em cima da mesa. “Da Pintura” (ed. Gradiva), organizado e prefaciado por Barbara Aniello, cujo conteúdo são anotações soltas, fragmentos, textos curtos — a maioria não datados, embora situados entre 1946 e 2013. Todos inéditos. Observações sobre arte, pintura, beleza e estética que estavam no fundo do baú e com as quais, por vezes, do alto dos seus 94 anos, nem sempre concorda. Está a folheá-lo — o cheiro de um livro novo — quando entramos. E esse gesto determina o rumo da conversa.
Recebeu-os hoje?
Fui surpreendido pelos livros esta manhã. Este é composto por notas, papéis, agendas que eu tenho. Como esta [tira do bolso um pequeno caderno]. Não consigo desfazer- -me dela nem passar o que está aqui escrito para uma outra, onde possa começar de novo.
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