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Djaimilia Pereira de Almeida: “Os romances não são o melhor sítio para encontrar respostas”

Em 2019, Djaimilia Pereira de Almeida venceu, com “Luanda, Lisboa, Paraíso”, o Prémio Oceanos, atribuído no Brasil
Em 2019, Djaimilia Pereira de Almeida venceu, com “Luanda, Lisboa, Paraíso”, o Prémio Oceanos, atribuído no Brasil

No seu quinto livro de ficção, Djaimilia Pereira de Almeida centra-se em personagens que vivem bastante abaixo do limiar da pobreza, mas não se resumem a estereótipos sociológicos. “São meus duplos, meus espelhos”, diz a escritora, em conversa com o Expresso

Fatinha vive na rua, tapa-se com caixotes, dorme à chuva na paragem do elétrico 28, na Rua do Loreto. Boa Morte da Silva, angolano que combateu pelas tropas portuguesas na Guiné, em tempos despachante, arruma carros na António Maria Cardoso, rua onde ficava a antiga sede da PIDE, voltando à noite para um quarto no Prior Velho. Adormece enrodilhado no cão com nome de futebolista (“Jardel”), lamenta-se da hérnia que lhe avoluma o ventre e, sempre que pode, escreve uma longa carta à filha distante e quase desconhecida, explicando-lhe o fluir dos seus dias, os infortúnios, as marés menos más, o pulsar do Chiado, a proteção que estende aos seus “comparsas”, quase filhos adotivos, em especial à Fatinha, que a maior parte do tempo não diz coisa com coisa, mas por vezes consegue ser de uma lucidez feroz.

São estas as personagens centrais de “Maremoto”, quinto romance de Djaimilia Pereira de Almeida, um livro que traz para primeiro plano quem vive “na transparência”, à margem da sociedade: os “invisíveis”, aqueles para quem ninguém olha, uma espécie de “espíritos do além” que circulam pela cidade, lado a lado com os cidadãos comuns que os ignoram. “Conheci as pessoas nas quais Fatinha e Boa Morte se inspiram nas ruas de Lisboa por onde andavam. Ou antes, não os conheci. Tanto com ele como com ela, troquei algumas palavras. Já não existe de facto qualquer relação com as figuras de carne e osso com que me cruzava, só a localização e as circunstâncias são ainda um resíduo delas, e o modo como se tornaram fantasmas em que me projetei ao longo de quase vinte anos, uma incubação de que me ia dando conta de vez em quando.”

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: josemariosilva@bibliotecariodebabel.com

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