Estamos aqui num dos mais emblemáticos lugares portugueses, neste “jardim de pedra” como um dia Eduardo Lourenço chamou ao Mosteiro dos Jerónimos; estamos aqui mulheres e homens, crentes e não crentes, no contexto desta liturgia cristã para expressar a mais comovida gratidão pela vida de Eduardo Lourenço.
Normalmente a morte tem uma dimensão pessoal e o luto que nos atinge, desabrido, ardente e radical, tem uma conjugação no singular. Eduardo Lourenço também viveu assim os seus lutos. Lembro um dos últimos, há precisamente sete anos atrás, quando morreu a sua mulher, Annie. Há um manuscrito de Lourenço onde se pode ler: “A Annie acaba de morrer. Eram quatro horas menos um quarto deste 1º de Dezembro, de 2013...” E continua: “A longa agonia silenciosa da Annie [...] restitui à vida uma espécie de esplendor póstumo, o da ausência tornada enfim sensível. De fora fica apenas o lençol branco da minha inexistência sem ela.” Ou recordo um dos seus primeiros lutos, sigilado na forma de dedicatória do seu livro de estreia, quando corria o ano de 1949: “em memória do Cap.Abílio de Faria e de Maria de Jesus Lourenço, meus pais”.
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