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A última entrevista de Christo: “Não consigo pensar em como serei lembrado. Sei que vivi uma vida incrível e não me arrependo”

A última entrevista de Christo: “Não consigo pensar em como serei lembrado. Sei que vivi uma vida incrível e não me arrependo”
ACE

Era um dos artistas contemporâneos mais famosos do mundo, sendo conhecido por fazer grandes intervenções artísticas que geraram tanta polémica como admiradores. Queria embrulhar o Arco do Triunfo, cumprindo um plano desenhado em Paris há quase sessenta anos. Morreu este domingo, semanas depois de ter dado esta entrevista. Os projectos em curso deverão ser postos em prática à mesma, seguindo a sua vontade

João Pacheco

Q
uando conheceu a futura mulher em 1958, Christo era um refugiado búlgaro recém-chegado a Paris. Para sobreviver, pintava retratos a óleo - sobretudo de senhoras e crianças.

Alguns cabeleireiros recomendavam-no às clientes ricas. Uma dessas senhoras francesas encomendou-lhe um retrato, decidindo pousar para o pintor no chateaux da família. Foi assim que o rapaz que pintava retratos e uma das filhas da retratada se conheceram e se apaixonaram.

Acabaram por ficar juntos - de início contra a vontade da família da rapariga - e viveram e trabalharam em duo até 2009, quando Jeanne-Claude morreu.
Já desde 1994, as obras em maior escala de Christo tinham passado a ser assinadas pela dupla Christo e Jeanne-Claude - incluindo os trabalhos das primeiras décadas. E para ver a forma apaixonada como discutiam, vale a pena espreitar na internet algum dos documentários dos realizadores Albert e David Maysles. Por exemplo quando o duo embrulhou a Pont Neuf em Paris. Ou quando Christo e Jeanne-Claude fizeram nos Estados Unidos a Valley Curtain - uma cortina de tecido cor-de-laranja com mais de 18 mil metros quadrados, pendurada entre duas montanhas do Colorado.

Esta entrevista deveria ter acontecido na capital francesa, onde Christo tinha planeado inaugurar uma exposição em Março, no Centro Pompidou. Estava também previsto que embrulhasse o Arco do Triunfo em Setembro, mas essa intervenção artística foi agora adiada para 2021.

Neste contexto de pandemia global, a conversa aconteceu ao telefone entre Lisboa e Nova Iorque, onde o artista de origem búlgara vivia desde 1964. Depois de perguntar por Lisboa e por Portugal, Christo estabeleceu as regras que viria a cumprir só em parte:

- Queria dizer-lhe uma coisa importante. Tenho prazer em falar consigo, mas eu falo só sobre mim. Não falo sobre política, sobre religião ou sobre quaisquer outros artistas. Aos 84 anos, tenho o privilégio de poder ser muito centrado em mim próprio. Estou pronto para falar sobre mim.

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