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Paulo Giordano escreveu o primeiro livro sobre o impacto da covid-19 em Itália. “O contágio é uma infeção na nossa rede de relações”

Paulo Giordano escreveu o primeiro livro sobre o impacto da covid-19 em Itália. “O contágio é uma infeção na nossa rede de relações”
Leonardo Cendamo/Getty Images

O escritor italiano Paolo Giordano, autor de “A Solidão dos Números Primos”, doutorado em Física de Partículas, sossegou a angústia com a matemática. O resultado é um livro e muitos paradoxos. Falámos com ele, porque Itália é também o país que vive o futuro

P aciência é aquilo que nos é exigido numa terceira fase da batalha que travamos contra o novo coronavírus. A terceira numa espécie de modelo que o escritor Paolo Giordano criou para estruturar aquilo que Itália viveu semanas antes de Portugal e de outros países europeus. Imaginando que a emergência sanitária que enfrentamos é uma fuga na canalização, numa primeira fase temos de parar o jato. Estancar a hemorragia. Num segundo momento, renunciamos. Paralisamos. Sacrificando o movimento e a interação que o nosso modo de vida implica, suspendemos a nossa economia e a nossa liberdade, para diminuir aquilo que é o número reprodutivo do vírus, ou seja, a capacidade que cada um de nós tem de contagiar os outros. No caso do novo coronavírus, calculamos que esse número reprodutivo seja de cerca de duas a três pessoas. E nem queremos imaginar o que teríamos de fazer se este vírus fosse como o sarampo, cujo número reprodutivo é de 15. Nesta fase, queremos achatar a curva, não deixar que muita gente seja contaminada ao mesmo tempo; e, por isso, escolhemos aquilo que o escritor italiano chama de “matemática da prudência”. No final desta fase, chegará a grande incógnita. O último período, aquele que nos exigirá mais paciência ainda, pois é possível que tenhamos de dar dois passos atrás para avançar um. “Com ou sem vacina”, como na citação com que este texto começa, retirada de “Frente ao Contágio”, de Paolo Giordano.

No final de fevereiro, quando apareceram os primeiros casos de covid-19 em Itália, Paolo Giordano hesitou: uma parte do autor de “A Solidão dos Números Primos” e “Negro e Prata” (editados pela Relógio D’Água) sabia que tinha razões para temer a epidemia (ainda não era uma pandemia); a outra parte, a mais otimista, aquela que a nós também nos disse que nada poderia mudar a velocidade do mundo, fez com que o escritor confirmasse um bilhete de avião, mesmo depois de terem aparecido os primeiros casos. Paolo Giordano não era, contudo, alheio à “matemática do contágio”. O romance “Divorare il Cielo” (2018), que lançou antes de “Frente ao Contágio”, é sobre uma praga que se abate sobre os olivais em redor de Lecce.

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