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Três anos após o Nobel, V. S. Naipaul faz o retrato de um homem à deriva. O grito do pavão

Em “Sementes Mágicas”, o desnorte existencial do protagonista contamina a própria ficção de V. S. Naipaul
Em “Sementes Mágicas”, o desnorte existencial do protagonista contamina a própria ficção de V. S. Naipaul
Bandeep Singh/The The India Today Group via Getty Images

V. S. Naipaul publicou um último romance, pessimista e reacionário. Um piar pífio

Em 2001, poucos meses antes de lhe ser atribuído o Prémio Nobel de Literatura, V. S. Naipaul publicou um romance intitulado “Metade da Vida”. O seu protagonista, Willie Somerset Chandran, filho de um membro da casta mais elevada (um brâmane, com quem se incompatibiliza), sai da Índia ainda novo, nos anos 50, escapando ao torvelinho político da pós-independência. Estudante em Londres, publica um livro de contos que muda a sua vida, não por lhe abrir uma carreira de ficcionista, rapidamente posta de parte, mas porque serve de pretexto para que uma admiradora chamada Ana, de uma colónia portuguesa em África não nomeada (presumivelmente Moçambique), lhe peça um encontro, na sequência do qual se apaixonam. Como em muitos outros momentos, Willie cede o controlo do seu destino, aceita viver a vida dos outros em vez de moldar a sua, e segue Ana para África, onde fica 18 anos infelizes. No fim do livro, esboça uma tentativa de libertação pessoal, mudando-se para Berlim, ao encontro da irmã, Sarojini, uma documentarista de esquerda.

Assumindo-se como sequela linear, “Sementes Mágicas” começa no ponto em que “Metade da Vida” terminara. Com 40 e poucos anos, Chandran não ultrapassou os seus impasses existenciais, muito pelo contrário. Põe-se voluntariamente à margem, deixa-se ir na corrente, não revela iniciativa própria, mantém o antigo hábito de “guardar tudo para si”. Ao fim de seis meses de coabitação, e estando o visto de Willie em risco de não ser renovado, Sarojini, farta do imobilismo do irmão, que atribui em parte a uma “psicose colonial”, atira-lhe à cara, sem rodeios: “Nunca houve nada que quisesses fazer. Nunca percebeste que as pessoas têm de construir o mundo para si próprias.” Entre prédicas inflamadas e revisões da História da Índia, incentiva-o a regressar ao país natal e a juntar-se a um grupo de luta armada pela libertação das classes oprimidas, liderado por um homem (Kandapalli) que só acredita numa revolução que venha “de baixo, das aldeias, do povo”.

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