O historiador de arte e curador João Pinharanda considerou que o artista Fernando Lemos tinha "um humor que desconstruía o real, tanto na palavra, como imagem", destacando o "grande fotógrafo e grande designer gráfico" que foi.
"Tinha um humor que desconstruía o real, e tanto era na palavra, como na imagem", afirmou à agência Lusa João Pinharanda, diretor do Centro Cultural Camões em Paris, referindo que Fernando Lemos manteve esta qualidade "toda a vida, que reteve dessa memória da poética surrealista".
O fotógrafo, artista plástico e designer gráfico Fernando Lemos, de 93 anos, morreu hoje, em São Paulo, no Brasil. O artista, nascido em Portugal e de nacionalidade brasileira, morreu numa unidade hospitalar, onde estava internado, segundo fonte próxima da família.
João Pinharanda, conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em Paris, salientou que Fernando Lemos "era um dos últimos representantes da geração surrealista, vivo, restando agora apenas Cruzeiro Seixas, Isabel Meyrelles e o professor José-Augusto França".
"A grande contribuição dele [Fernando Lemos] para essa geração foi num campo não explorado por nenhum dos outros nomes, que foi o campo da fotografia", referiu o antigo responsável pela programação do Museu de Arte Contemporânea de Elvas e da Fundação EDP, observando ainda: "O que era extraordinário nele era uma abertura de espírito, imensa".
No entender do historiador de Arte e comissário português da Temporada Cruzada França-Portugal 2021-2022, "talvez a saída de Fernando Lemos de Portugal muito cedo para o Brasil [lhe tenha permitido] fugir às pequenas intrigas dos grupos lisboetas", na década de 1950, sob a ditadura.
"Aliás, mais ou menos na mesma data, [o pintor] António Dacosta foi para Paris e ficaram ambos livres dessa pequenez lisboeta", prosseguiu, para salientar que "essa grande abertura de espírito [lhe] permitiu diversificar muito a sua atividade", tendo sido não só "um grande fotógrafo, como foi um grande designer gráfico, e isso é um dado também muito importante".
João Pinharanda disse lembrar "com muita saudade as vezes" que o encontrou em São Paulo e as vezes em que trabalhou com ele em Lisboa, nomeadamente em duas exposições, "Isto É Isto" e "Ex-Votos", que reuniram o Museu Arpad Szenes Vieira da Silva e a Fundação EDP, agora Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT).
Desde 1953 radicado em São Paulo, no Brasil, onde vivia, Fernando Lemos pertence à terceira geração de modernistas portugueses e o seu trabalho foi inicialmente inspirado pelo movimento surrealista.
Deixa uma vasta obra de pintura, desenho, poesia, e também na área do design, gráfico e industrial, destacando-se o conjunto de retratos, realizado na viragem da década de 1940, para a década de 1950, que esteve na base da exposição "Fernando Lemos: Para um retrato coletivo em Portugal, no fim dos anos 40", patente no Museu Coleção Berardo, em 2016.