Cultura

O crime perfeito que cometo é amar-te

O crime perfeito que cometo é amar-te
Foto: Twentieth Century Fox Film Corporation

O amor é o que tiver de ser. Com quem tiver de ser

O crime perfeito que cometo é amar-te

Soraia Pires

Jornalista

Ela pensava ser tão imperfeita que ninguém haveria de amar imperfeição assim. Não é a primeira a pensá-lo mas não não vimos as manhãs dessa gente toda: a ela vêmo-la a despir-se resignada, a pousar-se na banheira e a tocar-se do modo desamparado da gente que não tem ninguém para tocar. E alguém há de dizer-lhe num pequeno-almoço que os “cereais foram criados para prevenir a masturbação” e nós rimo-nos e ela mais ou menos.

“A Forma da Água”, o filme onde a vemos, começa assim e há de acabar duas horas depois a lembrar-nos um verso da canção de Karen O com Michael Kiwanuka que explica que “o crime perfeito que cometo é amar-te, apesar de tudo”.

O conto de fadas assinado por Guillermo Del Toro mostra como gente incompleta se há de amar completamente. É o filme que tem o maior número de nomeações para os óscares - são 13. Já ganhou dois globos de ouro - de melhor filme e melhor realizador - e ainda três BAFTA.

“Eu mexo a minha boca como ele e não faço nenhum som, como ele. Tudo o que sou e fui trouxe-me até ele. Quando ele olha para mim, não sabe o que me falta. Vê-me pelo que sou e como sou”, haveremos de escutar Elisa, a mulher que vimos naquela banheira triste, a explicar a alguém porque precisa de ajudar uma criatura por quem se apaixonou a escapar de onde o prenderam. “Tudo o que sou e fui trouxe-me até ele.”

Elisa - interpretada pela incrível Sally Hawkins, nomeada para melhor atriz - é muda desde que nasceu e não existe uma razão que lhe explique a voz que lhe falta. “Ele olha para mim e não sabe o que me falta”

Foto: Twentieth Century Fox Film Corporation

Elisa passa a noite a limpar o que os outros sujam num laboratório secreto que lida com coisas de uma suposta Guerra Fria. A seu lado, no emprego, há Zelda - interpretada por Octavia Spencer -, que passa o tempo a falar do marido ultrapreguiçoso - “até lhe passo a manteiga nos dois lados do pão torrado como se fosse uma criança” - e que há de ser determinante naquele que será uma espécie de desfecho semitrágico.

Só que há um dia que haverá de mudar os dias todos: uma estranha criatura azul chega ao laboratório secreto para ser torturada e eventualmente assassinada. Trata-se de um estranho, enorme e aparentemente violento ser com capacidade extraordinárias - cura feridas e faz milagres (um deles procurado há anos pela ciência, a solução para a queda de cabelo). Ela e ele apaixonam-se.

Foto: Twentieth Century Fox Film Corporation

Com a ajuda de Zelda, de Giles (o homem daquele pequeno-almoço com cereais) e do cientista Bob, que afinal é russo e se chama Dimitri, Elisa vai tirar a criatura, que na verdade deixou de ser criatura para ser amante, daquele laboratório pseudocientífico. E haveremos de vê-los depois numa casa de banho inundada de água até ao tecto numa estranha mas comovente cena de amor. Uma amor que há de ser um quase-conto de fadas. “A vida é apenas a ruína dos nossos planos.”

“A Forma da Água” - 13 nomeações

Melhor Filme
Melhor Realizador
Melhor Atriz
Melhor Ator Secundário
Melhor Atriz Secundária
Melhor Montagem
Melhor Fotografia
Melhor Guarda-Roupa
Melhora Banda Sonora
Melhor Direção de Arte
Melhor Edição Sonora
Melhor Mistura de Som
Melhor Argumento Original

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate