Isto é simplesmente a história de duas pessoas - o cinema não precisa de mais para ser relevante. E há de encontrar estrofes abandonadas ao longo deste texto - são do extraordinário Sufjan Stevens e haverá de perceber porquê
Oh, to see without my eyes The first time that you kissed me Boundless by the time I cried I built your walls around me White noise, what an awful sound Fumbling by Rogue River Feel my feet above the ground Hand of God, deliver me
Oh, oh whoa whoa is me The first time that you touched me Oh, will wonders ever cease? Blessed be the mystery of love
É verão e com ele aquece o desejo: as roupas encolhem, os corpos expandem e o coração explode. Elio, 17 anos, há de descobrir o amor neste aquecimento mas também o frenesim de um corpo que toca noutro. “Call me by your name” é isto e não haverá nada mais simples: alguém que gosta de alguém. Não haverá nada mais complexo.
Elio (Timothée Chalamet) passa o verão com os pais “algures em Itália em 1983”. A casa vitoriana da família com sofás de veludo, prateleiras cheias de livros, portas abertas e chão escuro só é habitada de quando em quando. As janelas fazem do jardim uma continuação da casa e a luz entra como os amigos. Todos os anos, Elio e os pais vão para lá nas férias grandes. Mr. Perlman, o pai e um académico norte-americano, convida sempre um aluno para o acompanhar, para ser seu assistente de investigação. “Algures em 1983”, Oliver foi o escolhido.
Elio tem ar de artista torturado pelos sentimentos. Os cabelos negros, a pele muito clara. Um ar inocente mas o sorriso de um rapaz quase de homem. Oliver não podia ser mais diferente. É alto, atlético, louro, moreno, beto. Extrovertido e vistoso. Vão apaixonar-se, hão de sentir “a natureza do medo e do desejo”.
Foto Studio / Produzent
Esta não é a história de amor de um casal homossexual. Esse é dos detalhes mais bonitos. É sobre duas pessoas que amam e desejam. A forma como o sexo não é exposto torna isto ainda mais elegante. Há secretismo mas nunca pudor.
Lord, I no longer believe Drowned in living waters Cursed by the love that I received From my brother's daughter Like Hephaestion, who died Alexander's lover Now my riverbed has dried Shall I find no other?
Oh, oh whoa whoa is me I'm running like a plover Now I'm prone to misery The birthmark on your shoulder reminds me
“Quando estávamos a trabalhar no guião, questionámos como traríamos a voz do livro para a linguagem cinematográfica e ainda pensámos na possibilidade de um narrador, mas não pareceu certo. Então, decidimos usar a música como o comentador da personagem do Elio e a abordagem de Sufjan Stevens à emoção é insensível e muito crua.” O realizador Lucas Guadagnino soube usar a música quase como uma segunda história, misturando hits dos anos 80, Bach e canções originais. “Blessed be the mystery of love”, cuja letra está espalhada por este texto, é dos temas criados exclusivamente para o filme, para ser a voz de Elio. É também candidata ao óscar de melhor música original.
“Call me by your name” está ainda nomeado nas categorias de melhor filme, melhor ator – com Timothée Chalamet – e melhor argumento adaptado – o guião é baseado no livro de André Aciman (2007). “A narrativa é sobrevalorizada. Não sei que história quero contar. Sei o que quero fazer. Quero fazer filmes que são capazes de criar choque emocional. Seja pela sensibilidade ou horror. Gostava de provocar uma emoção muito forte”, explica Lucas Guadagnino. E isto é cru, vulnerável, genuíno.
How much sorrow can I take? Blackbird on my shoulder And what difference does it make When this love is over? Shall I sleep within your bed River of unhappiness Hold your hands upon my head Till I breathe my last breath
Oh, oh whoa whoa is me The last time that you touched me Oh, will wonders ever cease? Blessed be the mystery of love
“Call me by your name” - 4 nomeações
Melhor filme Melhor ator, com Timothee Chalamet Melhor argumento adaptado Melhor canção original - “The Mystery of Love”