O que o passado de “Star Wars” nos diz sobre o futuro da saga
Se há dois anos “O Despertar da Força” deixava questões com resposta em aberto, o novo Episódio VIII de “Star Wars”, que se estreia esta quinta-feira, ainda baralha mais as coordenadas do futuro da saga. E agora, o que podemos esperar? O sucesso do filme original abriu caminhos que criaram um universo com expressão em várias frentes, dos ‘comics’ aos videojogos. Mas é no cinema que se centram as maiores atenções. Daqui a um ano haverá um filme sobre a juventude de Han Solo. Em 2019 chegará o Episódio IX. Mais adiante surgirá uma quarta trilogia. E que mais?
Há um antes e um após 1977 na história do cinema de ficção científica. É claro que houve uma multidão de momentos marcantes anteriores a 1977, incluindo produções históricas que passam por “Metropolis” (1926) de Fritz Lang, “O Dia em Que a Terra Parou” (1950) de Robert Wise, o visionário “Planeta Proibido” (1956) de Fred Wilcox ou o colossal “2001 – Odisseia no Espaço” (1968) de Stanley Kubrick, entre muitos mais instantes de referência. Mas aquele ano de 1977 no qual “Encontros Imediatos do Terceiro Grau” de Steven Spielberg e “A Guerra das Estrelas” (“Star Wars” no original) de George Lucas arrebataram entusiasmos pelo mundo fora, mudou o curso da história de um género que então ganhou um estatuto na primeira linha das atenções.
Ninguém imaginava então, nem mesmo a equipa que trabalhou em “A Guerra das Estrelas”, que o futuro da saga seria tão sorridente como, de facto, depois se confirmou. Não apenas no cinema, mas também no chamado “expanded universe”, um espaço alargado que inclui todas as descendências deste universo desde os comics e séries de animação para televisão aos livros de prosa e videojogos, todos eles partilhando uma mitologia comum e definindo uma cronologia que se respeita como se de verdade histórica se tratasse.
Ainda “O Império Contra-Ataca” (1981) estava longe de chegar aos ecrãs quando, através de um livro, o universo “Star Wars” começou a crescer além do que nos mostrara o filme original. Assinado por Alan Dean Foster, que trabalhara em “A Guerra das Estrelas” (e fora o autor da novelização do guião do filme), “Splinter of The Mind’s Eye” chegou às livrarias em 1978. O texto estava já escrito quando “A Guerra das Estrelas” se estreou em 1977 e era então ponderado como uma possível opção de baixo orçamento para uma eventual sequela no cinema se a bilheteira fosse apenas simpática para a primeira aventura de Luke Skywalker.
O sucesso de bilheteira do primeiro “Star Wars” foi, contudo, imediato e este texto rapidamente acabou posto de lado enquanto ponto de partida para o argumento de uma sequela. A livraria foi então o destino para esta aventura que nos levava a um planeta dominado por luxuriante flora no qual Luke Skywalker procura um cristal que supostamente daria, a quem o possuísse, poderes sobre a “força”. Até que ali chega Darth Vader e as forças imperiais...
Antes mesmo da segunda trilogia, pela qual George Lucas contou a história de Anakin Skywalker (ou seja, Darth Vader) entre os filmes “A Ameaça Fantasma” (1999), “Ataque dos Clones” (2002) e “A Vingança dos Sith” (2005), houve experiências de animação nas séries “Star Wars: Droids” e “Star Wars: Ewoks”. Mais tarde surgiriam “Star Wars: Clone Wars” e “Star Wars: Rebels”, também criadas para a televisão. Pelo caminho houve ainda uma tentativa de levar estas visões em desenhos animados ao cinema em “Star Wars: The Clone Wars” (2008) de Dave Filoni, mas os resultados, em todas as frentes, ficaram aí muito aquém do esperado.
A aquisição da Lucasfilm pela Disney em 2012 abriu novos espaços ao universo “Star Wars”. Mas a prioridade voltou a ser o cinema, com uma nova trilogia apontada a continuar a narrativa central, retomando a história três décadas depois dos acontecimentos registados em “O Regresso de Jedi”. J.J. Abrams foi desafiado a realizar o Episódio VII, chamando ao elenco não só novos atores (para novas personagens) como velhos conhecidos cuja presença asseguraria a desejada noção de continuidade. Mark Hammil (Luke Skywalker, que na verdade surge apenas nos segundos finais do filme), Carrie Fisher (Leia Organa), Harrison Ford (Han Solo) ou Anthony Daniels (C3P0) estavam a bordo. Tal como John Williams na criação da banda sonora. E com uma história em tudo fiel à identidade da saga, redescobrindo as imagens o sentido de realidade material dos cenários dos filmes originais, “Despertar da Força” saciou a saudade e deu a “Star Wars” a melhor bilheteira de sempre na abertura de uma trilogia que o novo “Os Últimos Jedi”, de Rian Johnson, agora continua. Daqui a dois anos este arco narrativo conhecerá o seu desfecho com um episódio IX que, depois de inicialmente apontado a Colin Trevorrow (o realizador de “Mundo Jurássico”), vai afinal ser realizado por J.J. Abrams. Para mais adiante haverá uma quarta trilogia, cuja conceção narrativa foi já atribuída ao realizador que agora se estreia na saga com este Episódio VIII e que deverá realizar, pelo menos, um desses três futuros filmes. Sobre que história nos contarão sabe-se apenas que deslocarão o vértice das atenções para uma zona mais periférica da galáxia...
Ao mesmo tempo que surgiu a terceira trilogia, com novos títulos a cada dois anos, foi anunciada uma outra série de filmes para chegarem às salas de modo a que não haja 12 meses sem uma estreia. Estes outros filmes, ao contrário das trilogias, teriam um arco narrativo que se resolveria sem necessidade de sequelas. A estreia aconteceu em 2016 com “Rogue One – Uma História de Star Wars”, realizado por Gareth Edwards, e contou-nos como os rebeldes conseguiram chegar aos planos da estação espacial Estrela da Morte. Ou seja, narrava-se uma história cronologicamente arrumada entre os episódios III e IV da saga central. Para 2018 está agendada a estreia do segundo destes filmes avulso – conhecidos como “filmes de antologia” – que, no mesmo quadro cronológico entre “A Vingança dos Sith” e “A Guerra das Estrelas”, nos levará desta vez aos dias de juventude de Han Solo para nos revelar como é que a mítica nave Millenium Falcon foi ter às suas mãos, numa trama que envolverá também a figura de Lando Calrissian. “Solo – A Star Wars Story” teve inicialmente Phil Lord e Christopher Miller como realizadores mas está neste momento a ser concluído pelo veterano Ron Howard. Alden Ehrenreich vestirá a pele da figura que Han Solo criou na trilogia original e revisitou em “O Despertar da Força”. Para 2020 é esperado o terceiro dos filmes desta série: correm rumores que seja centrado na figura do caçador de prémios Bobba Fett (que, tal como Lando Calrissian, surgiu pela primeira vez em “O Império Contra-Ataca”). Há rumores que sugerem que, pelo contrário, será de Obi Wan Kenobi que se vai falar e, de resto, Ewan McGregor, que lhe vestiu a pele na segunda trilogia, já se manifestou no sentido de dizer que está pronto para embarcar novamente nesta aventura se dele precisarem. Uma coisa é certa, a “força” está com a saga. E ao longo dos próximos anos não faltarão novos filmes de “Star Wars” nas salas de cinema.